domingo, 13 de novembro de 2016

O JARDINEIRO DO AMOR : - Alfredo Mignac


                                                                      


João 20: 11-16
(Poesia sobre a ressurreição)

Madrugada de luz, de paz e de vitória...
Jesus ressuscitara em meio à maior glória!
Por terra inerme, jaz, toda a guarda romana
e a potência do Império, abjeta, vil, profana
a intriga farisaica, o ódio do judaísmo
varrido como pó no ardor do cataclismo.
A cruz negra, de fel, para sempre vencida,
e invés da guerra, o amor; e invés da morte, a vida!

Maria Madalena o sepulcro, bem cedo,
foi visitar  levando a alma cheia de medo.
Temia a guarda. Era inda escuro. A estrela
radiante da manhã, parecia que, ao vê-la,
abria em leque, espadanando a luz imensa,
como para o caminho seu iluminar
e Jesus Ressurreto ao mundo anunciar!

Umas flores ao braço e bálsamo olorante
para a tumba de Quem, agora tão distante
não pode mais ouvir gemer o desgraçado,
nem o pobre sem pão, nem o degenerado,
nem o cego sem luz, nem da viúva tristonha,
ferida pela dor de saudade medonha,
os queixumes de morte!

– Ele, que era tão santo,
que da mãe triste, e aflita estancou tanto pranto,
que da doce criancinha a cabeça afagou,
de tantos males, tantas dores nos livrou...
Ele da morte está no cárcere maldito,
Envolto no mistério abstruso do infinito!
Para mim, que mulher outrora era do mundo,
seu amor, foi supremo; e seu perdão, profundo!

Dizia assim Maria, enquanto caminhava
para o jardim sombrio onde o sepulcro estava.
A dúvida pairava em seu cérebro ardente
e o coração no peito arfava tristemente!
O seu corpo, embuçado, era um fantasma esguio
que passava na noite exânime, de frio...
– Autômato, sublime, a correr, todo alerta,
ia depor aos pés do “morto” a última oferta
de um coração sangrando e uma fé impoluta,
frutos do grande amor de sua alma então sepulta!

Chegou. Eis o jardim de José de Arimatéia,
um discípulo oculto, um nobre da Judéia.
Aproximou-se. Ao longe, a dúbia luz boreal
refletia no céu. Silêncio matinal...
E sobre a enorme pedra – a que a tumba fechava,
mais belo que o clarão da Aurora que raiava
um ser angelical olha a tumba vazia!
Maria Madalena ao vê-lo, se extasia...
o seu rosto molhado em lágrimas de dor,
 – oh, se ela o visse! Tinha o tom divino, a côr
do jaspe reluzente ao sol entrando o Ocaso,
da luz a palidez no lago argênteo e raso!

Esboçando um sorriso, erguendo a fronte brada
o ser angelical, num toque de alvorada:
         Por que choras, mulher?
         E ela o pranto oprimindo:
         – Levaram meu Senhor...
           E soluçando e saindo,
foi gemer tristemente a um canto do jardim,
dando toda a expansão à sua dor sem fim!
Nisto, encontra um varão bem perto do canteiro,
a fitá-la de pé. Por certo o jardineiro...

       – Por que choras, mulher?
       E ela, o pranto oprimindo:
– Levaram meu Senhor. Eu o estou procurando.
Dize-me onde o puseste e o levarei comigo,
pois é meu Rei, meu Deus, meu Senhor, meu amigo!
E o jardineiro, olhando a sua alma em agonia,
Descobre-se afinal, bradando alto:
                                                                  – Maria!
Ela respondeu: – Mestre!
E cheia de ventura
ajoelha e o adora. A sua alma esclarecida e pura,
tornou-se num jardim de gozo e de dulçor.
Onde o húmus era a fé, onde a seiva era o amor,
as flores o perdão, e o trescalar ativo,
a epopeia sem par do Cristo Redivivo!

sábado, 12 de novembro de 2016

MOÇA ME DA UMA ROSA. - Mário Barreto França


                                                                                                  
                           
Era um triste contraste aquele, distinguido
Numa encosta escarpada e num vale florido:
Lá no morro, o barraco ao vento se inclinava;
No vale, um palacete, entanto, se enfeitava
De rosas, de jasmins, de pássaros joviais
Que adejavam, cantando, os lindos roseirais...

O barraco de zinco e o bangalô de pedra
– Onde  a miséria mora e onde a fartura medra –
Eram naquela parte estreita da paisagem
Antônimos cruéis que, na louca voragem
Da vida singular, excêntrica ou profana,
Confundem na incerteza a indagação humana...

Qual a causa que leva um dia a Onipotência
A dar rumo diverso a cada uma existência,
Que às vezes se coloca em destaque chocante,
Como revolta muda ou protesto gritante?

Por que, sem ter noção ainda do pecado,
Há de nascer alguém surdo, cego, aleijado?
Por que será, meu Deus, que, pobre e sofredor,
Se arrasta, muita vez, quem só pratica o amor?

– Para  ser manifesta a grandeza de Deus!

No casebre de zinco, um garoto pretinho
Vivia a contemplar das palhas do seu ninho,
Lá embaixo, ao sopé do morro proletário,
O formoso jardim do seu sonho diário
Que, à sua alma infantil de ingênuo espectador,
Representava o céu numa festa de flor.

Numa certa manhã de ensolarado brilho,
O garoto desceu do morro, maltrapilho,
E ficou enlevado, a contemplar, assim,
O viço tropical de tão belo jardim...

Como era tudo ali cromático e festivo!

Porém aquela flor, de rubro muito vivo,
Exercia sobre ele uma fascinação,
Que a mundos irreais sua imaginação
Levava a percorrer em vôos de magia,
Nas asas alvi-azuis de sua fantasia...

E, nesse doce enlevo, angélico semblante
Ele descortinou, olhando-o fascinante,
No veludo-cristal da corola formosa
Daquela rubra flor, daquela linda rosa...
E, a seu ávido olhar, a aparição amada
– Anjo,  deusa ou visão de algum conto de fada
Saiu da inspiração de um sonho rosicler,
Para se revelar simplesmente mulher:
Jovem, de olhos azuis e loira cabeleira
– Nova Branca-de-Neve ou Gata Borralheira...
E por isso ensaiou um pedido inocente:
– Moça , me dá uma rosa, uma rosa somente!...
Mas a jovem falou com desprezo invulgar:
– Vá  embora daí! Não torne a importunar!

O garoto ficou ainda um pouco parado;
Depois, triste, baixou os olhos, humilhado,
E saiu arrastando os pés, devagarinho,
Pela esteira sem luz do seu pobre caminho.
Como lhe pareceu tão mau o injusto o mundo;
Sufocou na garganta um soluço profundo,
Numa interrogação que ficou sem resposta:
– Por que, por que de mim essa moça não gosta?
Por que ao desgraçado aqui se nega tudo,
Até mesmo uma rosa? ... uma rosa?!...
Contudo
Tão pouco ele queria! E esse pouco, entretanto,
Lhe negavam sem dó, para aumentar-lhe o pranto...

O mundo é sempre assim: esconde a mão ao pobre,
Para fartar na orgia os caprichos do nobre!

No outro dia, bem cedo, às grades do jardim,
O garoto de novo estava a olhá-lo, assim:
Na ânsia de retratar na alma sentimental
O quadro multicor daquele roseiral,
Para poder sentir, dentro da própria vida,
O sonho irrealizado, a glória inatingida...

Quando a jovem surgiu de novo, entre os canteiros,
Seus olhos outra vez brilharam prazenteiros,
E cheio de esperança, à jovem tão formosa,
Com ternura pediu: - Moça, me dá uma rosa!

Agastada, porém, com o pedido insistente,
A jovem lhe negou o esperado presente:
– Vá  embora daí, se não eu chamo um guarda!...
Temendo a intervenção enérgica da farda,
O pretinho correu em direção ao morro,
Lançando ao ar parado um grito de socorro,
Que não achou, naquela esplêndida manhã,
Qualquer repercussão na piedade cristã...

O tempo começou a mudar de repente;
Fatídico soprava o vento fortemente.
Tremendo, o órfão entrou no barraco de zinco;
Viu as horas passar: duas, três, quatro, cinco...
E ele, que lá vivia apenas por favor,
Não tinha pai nem mãe, ele não tinha amor...

Deitou-se; adormeceu, sonhou com o paraíso
– Edênico  jardim – onde ele viu, iriso,
O sol resplandecer numa rosa vermelha
– Sua  rosa vermelha! – e ante ela se ajoelha...

Nisto, estranho rumor, como um forte trovão,
Fê-lo um anjo notar, levando-o pela mão,
Para, de um lindo quadro, erguer o tênue véu:
– Ele  entrava no céu... ele entrava no céu!...

Mas, na manhã seguinte, ouviu-se o comentário:
Durante o temporal, no morro proletário,
Houve um desabamento; e o pretinho – coitado! –
Ingênuo sonhador – morrera soterrado...

Sob um sol indeciso, à hora costumeira,
Regava o seu jardim a jovem jardineira.
Por um gesto instintivo, ergueu o olhar às grades:
– Vibrava  no éter frio as ondas das saudades –
Não viu, como esperava, o rosto do pretinho:
– Não  voltaria mais? Seguira outro caminho?!...
E, nessa confusão de um vago sentimento,
Sentiu no coração fundo arrependimento
De não ter satisfeito o anseio do menino...
Foi quando alguém lhe trouxe a notícia:
– O destino
Tinha roubado a vida ao pequenino triste!...

Ela não pôde mais; ela não mais resiste,
Prostrando-se a chorar...
E, logo, decidida,
Tirou de seu jardim, não só a flor querida,
Mas todas; e as levou com carinho e cuidado
Pra com elas cobrir o corpo inanimado
Do pretinho infeliz...
E ele, que não tivera
Na existência um lençol, ganhou da primavera
Um manto todo em flor, a envolver-lhe, afinal,
Com carinho e perfume, o corpo angelical...

***

No contraste da vida infausta ou abastada,
Nós somos muita vez como o órfão e a galã,
Negando do consolo uma rosa encarnada,
Para as faltas de amor chorarmos amanhã...

E ao peso acusador de líricas saudades,
Vamos levar depois às mortas ilusões
Todo o rubro rosal das oportunidades,
Que deixamos passar sem úteis decisões...

Que possamos abrir as grades do egoísmo
E oferecer a quem suplica afeto e paz
A rubra flor da fé do eterno cristianismo,
Que na alma, a rescender, não murcha nunca mais!

sexta-feira, 11 de novembro de 2016

Pensando - Mário Celso Rodrigues

No que estou pensando, se é que há tempo para pensar...

{...} Mecânico e fatal o eco responde: ... pensa...

Pensar? Como, pensar? Perder a mocidade
no egoísmo sem razão dessa inutilidade...
Pensar apenas? Não, teria acaso um fim,
pensar, pensar, pensar... de mim e para mim?
Esgotar a existência em um plano ilusório,
sozinho usufruir da paz de um escritório?
Quero menosprezar a vida dissoluta...
Mecânico e fatal o eco responde: ... luta...

Lutar... por que lutar... ver bandeiras aos ventos, {...}

   Meu amigo Gióia Jr. - de saudosa memória - escreveu essa estrofe em seu poema intitulado "O Eco", não todo o poema, que ilustra o que escrevo, mas, na pergunta inicial que o facebook nos faz a todos parei para refletir. Estava antes de joelhos conversando com o Soberano e Criador de todas essas maravilhas que o homem cuidou de destruir e, pasmem, destroem-se a si próprios. Como se não bastasse, para fazer valer suas ganâncias e sede de poder, destroem a outros também.
   Estava de joelhos conversando com o Soberano Deus e, em nome de Jesus, disse a Ele muitas coisas que entristecem, não só o meu coração, mas, também aos dos demais que O buscam e com Ele tem compromisso firmado. Levantei-me e pus-me a pensar nas coisas que Ele me disse enquanto conversávamos.
   Pensar, é bom que pensemos antes de qualquer atitude tomar, melhor será se a Deus nossos pensamentos entregar... Nele, com certeza as respostas aos nossos pensamentos virá.
   Em nossa conversa, dizia com a força de meu coração, mesmo me sentindo com a alma abatida do quanto o povo humilde que amo tem sofrido com as opressões, frustrações, enganos... desesperanças e abandonos. Não há em quem confiar... confiar – não foi um eco – mas sua Palavra dizendo-me que “a justiça dos homens é como trapo de imundície...” Amargurado falei que aqueles a quem Ele elegeu para nos conduzir, como rebanho Seu, a pastos verdejantes tem, na realidade, nos levado a cochos com lavagens que são servidos aos porcos; não temos sido encaminhados às águas tranquilas, límpidas e refrescantes, mas sim, águas turvas e mornas que não saciam as nossas sedes. Estes tem se preocupado, não com as viúvas e órfãos, mas, com os gerentes das instituições financeiras. É estarrecedor, de joelhos prostrados disse ao meu Senhor, vê-los no campo político – não orientando Suas ovelhas – mas, se mancomunando com políticos corruptos e soberbos, verdadeiros lobos, tornando vulnerável todo o rebanho... Sua Palavra soou por todo o meu “quarto de guerra” como que irado “Ai dos pastores que apascentam a si mesmos” e em tom mais suave continuou “Levantarei pastores que as apascentem, e elas jamais temerão, nem se espantarão; nem uma delas sucumbirá”.
   Como em todos os momentos em que com Ele converso, meu coração sente alívio e minha alma se aquieta.
   Assim, de joelhos, conversando com o Todo Poderoso Deus, pedi-lhe forças para atravessar todas as sendas de espinhos que há de se colocar a frente dos que O temem e seguem. Haverá perseguições... Momentos em que nos forçarão a negar o nome de Jesus Cristo em troco de nossa vida... Roguei pelo meu povo, povo humilde e bom, trabalhador e ordeiro, supliquei pelos que nos governam... Clamei pelo Brasil – terra que amo – pois em seu berço nasci... Acalmando todo o meu ser, Sua voz suave ouvi:  “Não se turbe o vosso coração... Crede em mim... E, no mundo tereis aflições, mas, tende bom ânimo... Eu venci o mundo”.

sexta-feira, 14 de outubro de 2016

Perguntaram o que acont... - Pablo Neruda

Perguntam o que acontecerá com a poesia no ano 2000. É uma pergunta difícil. Se esta pergunta me assaltasse num beco escuro eu levaria um susto de - Pai e Senhor meu! Porque o que sei eu do ano 2000? Do que estou seguro é de que não se celebrará o funeral da poesia no próximo século.
Em cada época deram por morta a poesia, mas ela se vem demonstrando vitalícia, ressuscita com grande intensidade, parece ser eterna.

A poesia acompanhou os agonizantes e estancou as dores, conduziu às vitórias, acompanhou os solitários, foi ardente como o fogo, ligeira e fresca como a neve, teve mãos, dedos e punhos, teve brotos como a primavera: Fincou raízes no coração do homem.  

(Pablo Neruda)      

sábado, 13 de agosto de 2016

Um pouquinho do muito de meu pai - Mário Celso Rodrigues

Azaleias e “Bougainvilles”, suas flores preferidas. Nada tinha com a poesia, com as letras não tinha intimidade, não escrevia as linhas, vivia as estrofes e declamava os encantos da vida, nunca o vi triste, ser gentil era um dos defeitos; as crianças lhe amavam, os adultos, bem, os adultos ele aturava...

Se me lembro, poucas foram as varadas – goiabeira das goiabas brancas – bem na diagonal da porta da sala... Sua sabedoria em muito suplantava as leis da psicologia moderna, valorizo as poucas vezes em que senti as lambadas...  Cresci, me tornei homem e, bem no início da fase “do tudo saber”, dei-lhe pesada resposta, estava regressando do quartel, da farda verde-oliva pediu-me que a despisse... Foram as últimas varadas... As lágrimas desceram de seus olhos, que se uniram as que desciam  dos meus, não resisti aos seus braços abertos e num convulsivo abraço unimos nossos sentimentos.

Grande amigo e mestre, na firmeza de suas convicções extingui meus medos. Aprendi a amar e respeitar aquela com quem minha família iria formar... Logo, Deus lhe presenteou com netas, tanto amor e carinho, desprendimento e entrega... E, nós – dois – os filhos aprendendo a ser pai.

Bem cedo ele se foi, ficou a saudade... Não mais ouviremos as melodias que em seu tom baixo cantava após a leitura bíblica antes do sono fecharem nossos olhos de garoto travesso – nossa mãe fazia as leituras após o jantar. Com as letras ele não tinha intimidade, amava as flores e muito bem delas cuidava... Não mais o veremos distribuindo mudas entre os vizinhos mais achegados... Ele se foi, ficou a saudade e o legado. Legado de um coração generoso que se compadecia da dor de qualquer um outro... Vivia as histórias que hoje contamos...

domingo, 7 de agosto de 2016

Oração da maçaneta - Gióia Jr.

Não há mais bela música
que o ruído da maçaneta da porta
quando meu filho volta para casa.

Volta da rua, da vasta noite,
da madrugada de estranhas vozes,
e o ruído da maçaneta
e o gemer do trinco,
o bater da porta que novamente se fecha,
o tilintar inconfundível do molho de chaves
são um doce acalanto,
uma suave cantiga de ninar.

Só assim fecho os olhos,
posso afinal dormir e descansar.

Oh! a longa espera,
a negra ausência,
as histórias de acidentes e assaltos
que só a noite como ninguém sabe contar!

Oh! os presságios e os pesadelos,
o eco dos passos nas calçadas,
a voz dos bêbados na rua
e o longo apito do guarda
medindo a madrugada,
e os cães uivando na distância
e o grito lancinante da ambulância!

E o coração descompassado a pressentir
e a martelar
na arritmia do relógio do meu quarto
esquadrinhando a noite e seus mistérios.

Nisso, na sala que se cala, estala
a gargalhada jovem
da maçaneta que canta
a festiva cantiga do retorno.
E sua voz engole a noite imensa
com todos os ruídos secundários.
- Oh! os címbalos do trinco
e os clarins da porta que se escancara
e os guizos das muitas chaves que se abraçam
e o festival dos passos que ganham a escada!
Nem as vozes da orquestra
e o tilintar de copos
e a mansa canção da chuva no telhado
podem sequer se comparar
ao som da maçaneta que sorri
quando meu filho volta.

Que ele retorne sempre são e salvo,
marinheiro depois da tempestade
a sorrir e a cantar.
E que na porta a maçaneta cante
a festiva canção do seu retorno
que soa para mim
como suave cantiga de ninar.

Só assim, só assim meu coração se aquieta,
posso afinal dormir e descansar.

quarta-feira, 20 de julho de 2016

Saudades - Texto de Mário Celso Rodrigues

     A tarde é fria, a noite caindo anuncia que mais gélida há de ser... Me vem o calor de sua voz... Seus gestos trêmulos, suas mãos enrugadas acariciando minha face ainda jovem... Seus olhos já opacos dizem-me o quanto brilharam um dia – no momento em que dedilho minhas lembranças, me ocorre um sorriso tímido  –  três foram os momentos... Ela me confessou um dia – o primeiro momento foi quando conheci seu pai, o segundo foi quando você nasceu, muitos foram os outros, mas, o terceiro ficou marcado em mim, o nascimento de seu irmão – no nascimento das netas, seus olhos também brilharam.
     Não mais verei,  seus olhos não mais me chamarão a atenção por algum deslize que eu tenha cometido, nas tardes frias não mais o calor de sua voz me oferecendo uma bebida quente. 
– Meu filho acabei de passar um café pra você, fiz também um bolo, eu sabia que você viria...
     Nossas conversas, seus conselhos não mais terei... Não me ouve... Não me vê... As delícias do paraíso onde hoje ela está são bem além do que posso imaginar. Nestas minhas lembranças de um final de tarde... fria tarde, de meus olhos correm gotas de saudades, doces saudades...  limpas e livres saudades, sem as manchas do remorso e nunca presa a algum sombrio passado.
     Saudades esperançosas do reencontro... Inda infante, com o “Manual da Vida”, que chamamos também de Escrituras Sagradas,  outros a definem como Bíblia Sagrada e,  ela de uma forma reverente intitulava de – A  Palavra de Deus, em suas mãos ainda firmes, nos ensinava a amar a Deus e o quanto Jesus Cristo sofreu para nos assegurar a vida eterna... Não mais sou infante, mas, tenho a certeza de que seus ensinos me tem valido, no dia a dia tenho comprovado tudo o que por ela me foi ensinado... “Um dia nos encontraremos na eternidade e juntos entoaremos louvores a Quem nos criou e por amor à terra desceu”. 
     Suas palavras firmes com voz firme... Já não tão firme... Já trêmula em seus últimos dias... A certeza do que dizia brilhava em seus olhos opacos... Para o mundo seus olhos agora fechados. Mas, radiava em sua fisionomia o quão feliz era estar junto do Pai, nas ruas de ouro com os arcanjos celestiais... Dela me despedi, na terra, não mais a verei –minhas tardes serão frias, minhas  noites gélidas... Até um dia no porvir.

sábado, 16 de julho de 2016

FACES NO FACE - Silvino Netto



(Silvino Netto, fascinado, face a face no FACE)

Resisti aderir ao FACE!
Não queria perder minha privacidade,
Nem entrar na de alguns,
Que, a meu ver, se expõem demais.
Tinha dificuldade em lidar
No processo de seleção de adicionar pessoas.
Imaginem o volume de convites
Que recebe um professor,
Com mais de 40 anos de magistério!
Salvo engano, são mais de 3000 ex-alunos!!!

Finalmente, não resisti a pressão:
“Você não está no Face?
“Você não sabe o que aconteceu com fulano!
“Face é um barato! A gente fica por dentro
De tudo que está acontecendo!”
... .... ....
Comecei a sentir-me fora do mundo,
Isolado da rede social.
Meu telefone já não tocava mais!
E, rendi-me!
Aderi ao FACEBOOK!

Que experiência interessante!
Apesar das perdas de visão, impressões digitais,
Dores ciáticas, etc...
Bom rever familiares, amigos, ex-alunos,
Ressuscitar os “mortos”,
Receber e enviar mensagens,
Fotos, vídeos, flayers,
Curtir, Comentar, Compartilhar,
Publicar, etc, etc, etc...
Mas, uma das coisas mais curiosas,
Desafiadoras e assustadoras,
Que vivencio no FACE,
É associar nomes
Às faces no FACE!

Meus ex-alunos, como vocês estão diferentes!
Alguns irreconhecíveis!
Guardei vocês na memória,
Aos seus 18, 22, 25 anos de idade!
Que trabalho, agora, alguns me dão
Para identificar: Este é fulano mesmo?
Mas, como envelheceu! Rsrsrsrs
Como engordou! Ficou careca!
Não, não pode ser!
Será que é ele mesmo!
Pô! Já tem netos!
Mas, que família bonita nesta foto!
Produzida!
Aquele ali é a cara do pai
Quando jovem!
Que saudades!
E as ex-alunas das décadas 80/90?
Algumas, agora, mais cheinhas...
E os cabelos? Cortes variados,
Alisados, encaracolados, curtos, longos,
Mas, raramente embranquiçados!
Quantas morenas, viraram loiras
Quantas loiras, acajuadas...


E, então eu me dou conta,
Que, certamente,
Vocês estão dizendo, também,
A mesma coisa, de minha face no FACE!
“É o professor Silvino Netto mesmo?”
“Tadinho! Tá velhinho!” rsrsrs

Não tem jeito!
Por mais que os aplicativos
Nos permitam maquiar a foto
Da face, no perfil, do FACE,
Não dá para esconder,
As belas rugas,
Os cabelos prateados,
As gordurinhas a mais,
Registros de nossa trajetória temporal
Enriquecidas de experiências exitosas...
Que nos levam , hoje, a
Curtir, Comentar, Compartilhar,
E a alegria de recuperar a memória
No encontro virtual,
Face a Face, no FACE!
FASCINANTE!!!

domingo, 3 de julho de 2016

Careta. Texto de Mário Celso Rodrigues

SOU CARETA... Não viajando nas fumaças da ilusão em direção à desgraça, sou careta porque tenho cuidado do meu intelecto... minha saúde mental, sou careta porque prefiro amar os meus não lhes causando o constrangimento do afastamento...

Se, porque do baseado me afasto, tenho nojo e revolto-me com os “intelectuais” fabricados pelas drogas, é caretice, me orgulho em ser assim considerado e, como tal, abomino a hipocrisia destes que um dia execram os traficantes e em outro, usando de um programa televisivo em rede nacional, faz apologia ao uso da maconha...

Maconha, desgraça que com sutileza leva o homem ao abismo... Gostaria de levar esses jornalistas – intelectuais fabricados – a uma das várias cracolândias  esparramadas pelas grandes cidades e, que entrevistassem, fizessem uma enquete com os “molambos” humanos   que perambulam sem destino, num vai e vem sem rumo em busca de migalhas para o sustento do vício – compra de “só mais uma pedrinha” – nesta  enquete iriam descobrir que 80% dos tais começaram pela maconha. Lá encontram-se engenheiros, médicos... professores, com suas vidas desgraçadas, longe da família e do convívio social...


Sou careta e revolto-me em ver idiotas travestidos de “jornalistas”, apoiando e valorizando a mediocridade de um pobre povo que vive na ignorância viajando pela “fumaça” de encontro ao nada...   

sábado, 2 de julho de 2016

Meu protesto - Mário Celso Rodrigues


     Da maconha à cocaína é um pulo. Não importa se no Rio ou na Jamaica. Há "intelectuais idiotas e covardes" que podem pagar um tratamento, e, há os pobres coitados que se iludem com os tais "intelectuais idiotas e covardes" que fazem apologia a essa desgraça satânica... Conheço, oro, acompanho e choro por quem está com a vida desgraçada por este vício miserável. Nunca param com a maconha, querem experimentar algo mais forte e, então passam a usar a cocaína, um dia, não tendo mais o que vender ou roubar da família para pagar as poucas gramas que custam uma fortuna passam para o crack.
     Então vem uma "intelectual" idiota e covarde em um programa de audiência nacional fazer apologia à maconha, se um dia cair na desgraça do vício, com certeza não chegará no poço usando o destrutivo crack, terá dinheiro e com certeza a emissora ajudará a pagar um tratamento em uma clínica de referência. O que não acontece com o pobre coitado assalariado ou estudante que, certamente, cairá numa desgraça sem retorno.
     Este tipo de atitude merece uma condenação pelos supremos tribunais de qualquer nação... Isto é uma "apologia que destrói uma nação".

quarta-feira, 29 de junho de 2016

Habacuque - Israel Belo de Azevedo

Ainda que a vida hoje não floresça,
partida por perda que traz do abismo a beira,
roída na raiz pela dor da doença,
que prontidão atenta e absoluta requeira.
Ainda que entre os meus, a dissonância cresça,
minha alma se seque como estéril figueira.
Do que tenho apenas reste uma rala esteira,     
e meu próximo momento eu não conheça.

Eu orarei ao Pai para que me sustenha,
                                       eu esperarei que seu sustento me venha,
                                       até que Ele me sussurre suas respostas.

Porque sei que toda a minha angústia Ele sente,
porque sinto que comigo Ele está presente,
Eu agora me lanço sobre suas costas.

quarta-feira, 15 de junho de 2016

Indecisão - Mário Celso Rodrigues

Não tenho ficado triste, lágrimas tenho derramado... Mais poesias ao meu louvor tenho acrescentado... Minha revolta, o amor tem suplantado. Por vezes minha ironia tem me sufocado... Paro e reflito e, então, tenho me perdoado.
Com néscios tenho me deparado, os débeis tem me aconselhado... Os sábios - eu os tenho observado... Vou seguindo numa paranoia com tempo determinado. Obstáculos tenho vencido na altivez de meu grito ou na docilidade de um quase sorriso, corro parado na ânsia de chegar... a algum lugar... qualquer lugar, em lugar nenhum quero minha nau atracar.

Deixar meus sonhos serem levados pelas ondas calmas de um mar bravio... Ser contraditório, dizer “sim” enquanto o coração diz um sonoro “não”.

domingo, 12 de junho de 2016

DONO DA VIDA - Pr. Samuel de Souza

Quem, nesse mundo, é dono de si mesmo?
Quem dita seu nascer ou sua morte?
Quem poderá dizê-lo: Eu farei,
Ou confirmar, vaidoso: sim, sou forte?

Certamente que todos somos frágeis.
Nosso viver é sempre relativo.
Alguns mais, outros menos resistentes
Ao enfrentar aqui, da vida, o crivo.

Só Jesus a quem canto neste verso,
Tem em Si mesmo, a vida que é eterna.
Tem, em Si mesmo, o domínio do universo.

Jesus, Senhor do céu, Senhor da terra,
Senhor de nossa vida, Deus, Poder,
A Ele, a glória que, em Si mesmo, encerra!  

sábado, 14 de maio de 2016

ODE A ISRAEL - Gióia Jr. (adptado)

ODE A ISRAEL
68 anos de sol
68 anos de mar
68 anos de mel
68 anos de vida de Israel!

68 anos de dor
68 anos de amor
68 anos de fel!
68 anos de lutas de Israel!

Um passado ao sabor
da vingança e da dor
da esperança maior –
Um passado glorioso de Israel!
para a festa de paz
para a festa de quem
se manteve fiel
brilha e tremula a estrela de Israel!

Comparecem de longe os heróis do passado,
o patriarca Abraão e o filho bem-amado
Isaque – e do seu sangue a semente fiel
Esaú e Jacó – vergônteas de Israel –,
comparece Davi – poeta e sonhador,
declarando feliz que Deus é seu pastor –
e dele o filho sábio e notável varão
cujo nome é uma glória e um marco: Salomão;
e para a sagração destes gloriosos dias
vêm profetas e reis – Oséias, Isaías,
Jeremias, Amós, Daniel, Ezequiel –,
68 anos faz agora o Estado de Israel!

E chegaram para a festa os mártires e os sábios,
os mortos de Teblinka e as sombras de Dachau,
Einstein, Freud e também os poetas e os músicos,
os artistas, os bons – os líderes de todas
as correntes de luz do pensamento humano –
e os soldados de agora e os que estão para vir,
herdeiros de Dayan e de Goda Meir,
numa festa de luz, de movimento e som,
evocando Moisés e ouvindo Ben Gurion.

Dia maior.
Marco inicial,
o deserto florindo
e o mar brilhando em sal,
o trabalho mostrando o caminho seguro
da glória do presente e da paz do futuro.

Cantai, jovens, dançai, saltitai em flores,

o Negueb é um jardim,
o Horeb é um manancial;
crianças, dai as mãos numa enorme ciranda,
o Jordão é um caminho, o Hebrom  é uma guirlanda,
a terra é um doce ninho
amigo e maternal!

Que os sons de Jericó, as mágicas trombetas
ecoem proclamando o exército fiel
e que a bandeira azul da estrela de Davi
tremule imaculada, excelsa, insubmetida,
mostrando às multidões a Terra Prometida
e cantando o esplendor da Glória de Israel!








domingo, 8 de maio de 2016

Minha mãe - Mário Celso Rodrigues


     Continuas sendo a poesia que faz palpitar meu coração, cada estrofe de teu sábio olhar e a melodia de tua voz, formam a mais doce canção que meus ouvidos não esquecem... A meiguice de teu olhar nenhum poema substituirá.
     


     Chamou-te o Senhor... Partiste para tão longe, mas, sinto-te bem perto. Neste momento solene e quente, gotas macias da saudade, minha fronte acaricia... Breve haverá o reencontro... Não sei se distante ou perto está o dia. 
     


     Não, não me importo quando será este momento, somente o sabe quem nos criou, hoje me importa o que guardo com carinho... O calor de seu abraço que minhas lágrimas enxugou, a doçura de seus gestos me indicando por onde deveria seguir. E, quando precisei, eras meiga em dizer-me o quanto errei... Tu partiste, estás num distante bem perto... 



     Cada palavra por ela proferida, foi a linha de uma estrofe que formou o poema que hoje declamo...

terça-feira, 5 de abril de 2016

MENINO POBRE - Gióia Jr.

Menino pobre do meu bairro, triste,
existe um verso em teu olhar profundo;
é que em tua pessoa subsiste
a miséria tristíssima do mundo...

Menino pobre do meu bairro, existe,
em teu olhar um sentimento fundo:
choras a dor de haver um mundo triste
dentro do grande e colorido mundo.

Menino pobre do meu bairro, grita,
para que escutem tua voz tremente,
amargurada, enfraquecida e aflita;

pelos irmãos que dantes não gritaram,
clama nas ruas angustiosamente,
exige o pão que os homens te roubaram!

terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

Verde/ Amarelo/Azul e Branco X Vermelho - Mário Celso Rodrigues




Não trocaremos o vermelho do sangue de um povo patriota que ama...
... E trabalha para o engrandecimento da nação, berço acolhedor.
Pela ganancia vermelha de uns poucos visionários do poder.
Os patriotas amam o verde que desfralda no deliciar da brisa.

Jamais haveremos de trocar  o orgulho de um povo ordeiro...
... Que não foge à luta e valoriza o labor, pelo pachola zombador.
Nunca o amarelo será substituído pelo vermelho opressor...
... Os patriotas não permitirão os enganos do usurpador.

Não ao fraude  vermelho,  vergonhosas mentiras e despudor...
Sim ao azul que pelo céu transpõe fronteiras...  E, no além-mar
canta bem alto o hino que simboliza o nosso esplendor...
...  O valor de nosso povo, sua garra e pudor.

Proclamamos e amamos a paz... A alvura das estrelas
Jamais serão trocados pelo vermelho da guerra...
...  Da ambição incontinente dos sem-caráter,
Que pensam ter tomado... roubado para si o amado BRASIL.