quarta-feira, 20 de julho de 2016

Saudades - Texto de Mário Celso Rodrigues

     A tarde é fria, a noite caindo anuncia que mais gélida há de ser... Me vem o calor de sua voz... Seus gestos trêmulos, suas mãos enrugadas acariciando minha face ainda jovem... Seus olhos já opacos dizem-me o quanto brilharam um dia – no momento em que dedilho minhas lembranças, me ocorre um sorriso tímido  –  três foram os momentos... Ela me confessou um dia – o primeiro momento foi quando conheci seu pai, o segundo foi quando você nasceu, muitos foram os outros, mas, o terceiro ficou marcado em mim, o nascimento de seu irmão – no nascimento das netas, seus olhos também brilharam.
     Não mais verei,  seus olhos não mais me chamarão a atenção por algum deslize que eu tenha cometido, nas tardes frias não mais o calor de sua voz me oferecendo uma bebida quente. 
– Meu filho acabei de passar um café pra você, fiz também um bolo, eu sabia que você viria...
     Nossas conversas, seus conselhos não mais terei... Não me ouve... Não me vê... As delícias do paraíso onde hoje ela está são bem além do que posso imaginar. Nestas minhas lembranças de um final de tarde... fria tarde, de meus olhos correm gotas de saudades, doces saudades...  limpas e livres saudades, sem as manchas do remorso e nunca presa a algum sombrio passado.
     Saudades esperançosas do reencontro... Inda infante, com o “Manual da Vida”, que chamamos também de Escrituras Sagradas,  outros a definem como Bíblia Sagrada e,  ela de uma forma reverente intitulava de – A  Palavra de Deus, em suas mãos ainda firmes, nos ensinava a amar a Deus e o quanto Jesus Cristo sofreu para nos assegurar a vida eterna... Não mais sou infante, mas, tenho a certeza de que seus ensinos me tem valido, no dia a dia tenho comprovado tudo o que por ela me foi ensinado... “Um dia nos encontraremos na eternidade e juntos entoaremos louvores a Quem nos criou e por amor à terra desceu”. 
     Suas palavras firmes com voz firme... Já não tão firme... Já trêmula em seus últimos dias... A certeza do que dizia brilhava em seus olhos opacos... Para o mundo seus olhos agora fechados. Mas, radiava em sua fisionomia o quão feliz era estar junto do Pai, nas ruas de ouro com os arcanjos celestiais... Dela me despedi, na terra, não mais a verei –minhas tardes serão frias, minhas  noites gélidas... Até um dia no porvir.

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