sábado, 26 de dezembro de 2015

SOLIDÃO DO SONHADOR - Silvino Netto

                                                  
               ( Dedicado a mim mesmo, Silvino Netto, nas horas de vôo, na dor da solidão dos sonhos)


Acordei, hoje, de meus sonhos da noite,
E me encontrei  na realidade da dor do dia de sonhador.

O sonhador tem seus momentos de dor,
De “sofridão”, daqueles que se dão.
 O sonhador sente  a dor da solidão!
Aquela sensação de quem se arrisca, sozinho, nas alturas,
Incorporando sonhos de tantos.

Não quero a solidão da noite fria do vôo solitário.
(Uma andorinha só, não faz verão).
Não quero as asas artificiais de  Ícaro,
Para voar só, no vôo perigoso de alcançar o  sol.
Quero aquecer-me no diálogo da solidariedade.
Quero voar em V,
Com meus  pares, em bando, rasgando os céus,
Em passes de danças e coreografias,
Permutando lideranças,
No palco dos céus de azul ou mesmo em turbulências.
Quero compartilhar,  no ninho das nuvens,
Com pombas da paz e águias da liberdade
Revendo rumos e rotas, na experiência de vôo de outros.

O sonhador só,  sente a dor
Da força do vento contrário
E se angustia por não querer perder o seu destino.
O sonhador sente a dor
De  ver,  do alto,  homens, apenas formigas,
Que se  conformam em subir montanhas, sem rumo,
Ou na escavação de túneis,
Para esconder-se na escuridão da terra.
Ciscam, acomodam-se em ocas,  no seu quadrado 2x2,
E realizam-se  na busca de minhocas.
São homens, com dna de vôo,
Mas não criam asas para alcançar as alturas
- A razão de sua existência.

O sonhador sente a dor de ver o horizonte distante,
Como se nunca fosse chegar ao seu destino.
O sonhador sente a dor do medo,
De perder-se no infinito,
De entrar em  looping no buraco negro.

O sonhador sente a dor dos grunhidos dos que ficam na terra,
Zombando dos que voam,
No coro  da mesmice, dos que não acreditam no futuro.

O sonhador sente a dor dos tiranos,
Matadores de sonhos, de utopias,
Caçadores dos que sonham para o além.

O sonhador sente a dor
Do peso das asas e dos pés descalços, sem descanso,
Da falta do chão para um pouco de repouso.

O sonhador sente a dor de estar sempre acordado,
Vigilante no enfrentamento da nuvem negra,
Que impede a visão do painel de vôo.
Sente a dor dos raios cortantes que eletrizam a alma,
Do clarão que lhe ofusca os olhos
E do trovão que estremece seu corpo frágil.
O sonhador sente o frio cortante e constante
Que congela seus sonhos,  por um pouco,
Até que venha o seu verão de sol aquecedor,
Combustível para uma nova estação de vôo.

Mas, ainda que  carregue a dor de seus sonhos,
O sonhador, não desiste de voar.
Voa na força de Fenix, dos que confiam no Senhor,
Para renovar as forças,  viver muito
E, depois, ressuscitar das cinzas,
Nos seus próprios sonhos e de seus outros pares.
Reabastece-se no prazer da luta, ao superar obstáculos;
Ao ver o invisível; ao conquistar novas terras e céus;
Ao poder voar nos ares; sobre mares;
Ver o sol de perto, o céu aberto;
Banhar-se no brilho das estrelas;
Provar, na lua-cheia,  seu sabor de mel;
Ver,  no microscópio do universo,
A biodiversidade da terra em multicores.

O sonhador,  ao transformar seu sonho em realidade,
Sente o prazer de superar a dor
Que carregou em sua longa jornada de vida.
O prazer de ser contestador, conhecedor,
Provedor,  curador, agregador, inquiridor,
Pesquisador, inovador, articulador, mobilizador, conquistador ...

O SONHADOR, REALIZADOR, É UM VENCEDOR!

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