(Aos meus amigos que morrerem depois
de mim)
Silvino Netto – 01.05.08
Quando
eu morrer,
Quero
uma festa para celebrar a vida!
Quero
uma cerimônia repleta de amigos
E
familiares.
Não
quero ter pressa de dar adeus
Enquanto
presente em corpo frio.
Não
faço questão de flores e coroas.
Flores
de funeral, murcham logo
E
cheiram diferente do perfume
Das
flores de eventos festivos.
Quero
você presente
Como
adorno e aroma de que preciso
Para
celebrar os muitos dias de vida
Que
vivi, intensamente.
Quando
eu morrer,
Quero
que você
Traga
consigo suas lágrimas
Para
derramá-las sobre mim.
As
lágrimas são expressões
Lindas
de nossos sentimentos
Mais
profundos e significativos.
Não
quero ver somente
Mulheres
chorando.
Quero
ver homens, também.
Homem
também chora!
Têm
sentimentos!
Portanto,
chore lágrimas,
Mesmo
que não rolem na face,
Que
sejam apenas, lágrimas secas
Brotantes
do impulso de soluços,
Do
íntimo da alma,
Que
só você sabe
O
quanto significam.
Quando
eu morrer,
Aproveite
a oportunidade
Para
rever e abraçar amigos
Que
não os via há muito tempo!
Fique
à vontade para abraçá-los
De
seu jeito espalhafatoso e brincalhão.
Eu
não vou pensar
Que
é falta de respeito a mim,
Seu morto querido.
Só
não faço o mesmo porque não posso.
Iria
causar um corre-corre tremendo
E
matar muita gente do coração...
Com
os amigos,
Recordem
o que tínhamos em comum,
As
nossas diferenças e semelhanças.
Faça
desta festa de minha morte
Um
evento alegre
De
encontros e abraços saudosos
Que
selem compromissos
De
não esperar o próximo enterro
Do
outro
Para
se encontrarem novamente.
Quando
eu morrer,
Quero
que você venha
E
traga no coração sementes de saudade.
Que
coisa linda
O
sentimento da lembrança do amigo...
A
vontade forte de que ele não se vá...
Que
fique; fique perto,
Bem
perto para sempre!
Sua
saudade trazida
É
uma prova do quanto você
Me amou profundamente.
Quando
eu morrer,
Não
se preocupe
Com
a roupa que vai vestir.
Não
precisa tirar do armário,
Aquelas
vestes escuras,
Com
cheiro de mofo ou de sachê.
Venha
no seu próprio estilo:
Com
brilho, sem brilho ou multicor...
Não
importa.
Lembre-se
que sou tricolor!
Quando
eu morrer,
Não
precisa perder a noite toda
No
velório.
Alguém
vai ficar cuidando
Para
o “morto” não sumir (rrss).
Descanse
e, no máximo,
Sonhe
comigo, sem ter pesadelos.
Mas,
na hora da festa,
Não
chegue atrasado,
Em
cima da hora.
Venha
mais cedo para me curtir
Na
presença deste corpo
Que
você não verá mais
(pelo
menos aqui na terra).
Nem
fique indeciso
Preocupado
com as coisas que deixou
Sobre
a mesa de trabalho,
Sem
saber, se fica ou não fica,
Até
o último momento
Do
sepultamento.
Me
acompanhe, andando passo a passo,
Até
à sepultura.
E,
se for de sua cultura,
Jogue
suas últimas pétalas sobre mim.
Quando
eu morrer,
Eu
quero que você cante.
Uma
festa só é festa
Se
tiver muita música boa no ar
Que
expresse o perfeito louvor.
Cante,
porque faz bem:
Espanta
os males,
Abre
espaço no seu coração
Para
o pouso da paz,
E
faz caminho para o bálsamo da consolação...
Quando
eu morrer,
Eu
quero que o seu sorriso
Esteja
presente na minha despedida.
Sorria,
acompanhado
De
um breve “até logo”.
Sim,
porque você, também, está na fila.
Não
pense que vai
Ficar,
pra sempre, pra semente.
Mais
cedo ou mais tarde,
Estará,
aqui, no meu lugar.
Quando
eu morrer,
Olhe
para mim,
Mas
não precisa dizer nada.
Eu
sei que você vai me achar
O
morto mais bonito que já viu,
Que
estou sereno,
Dormindo
como um pássaro,
Sonhando
o sonho dos anjos...
É
verdade:
Eu estou vivo, como nunca!
Sei
que você se lembrará
Apenas
de minhas virtudes,
Sepultará
minhas falhas
Com
o seu perdão,
Prova
o quanto gosta de mim,
Apesar
de mim mesmo.
Quando
eu morrer,
Ao
tocar o sino,
Anunciando
que chegou a hora
De
me sepultar,
Não
brigue por chegar primeiro
Para
carregar a alça de meu caixão.
Se
não conseguir vencer,
Esta
“briga de machão”,
Fique
satisfeito, com a certeza,
De
que me carregará para sempre
No
berço de seu coração.
Quando
eu morrer,
Despeça-se
de mim,
Na
certeza de nos encontrarmos um dia,
No
mistério da ressurreição,
Pela
graça de Deus
Que
nos deu a dádiva da vida;
Pelo
amor de Cristo,
Que
morreu por nós,
Para
celebrarmos, na morte,
A
vitória da vida,
E vida eterna!
Quando
eu morrer,
Se
não puder vir,
Não
fique com sentimento de culpa
E
nem pense que volto, para dar o troco,
Puxando-lhe
o pé.
Se
não fizer nada disso que sugeri,
Basta
que reserve um tempinho,
Onde
estiver,
Para
refletir sobre a vida,
Sobre
as suas prioridades
E o
quanto é importante
Cultivar
amizades
E
cuidar de você.
Quando
eu morrer,
Eu
gostaria que fosse assim!
Mas,
não faça nada,
Simplesmente,
por mim.
Faça,
o que fizer, principalmente,
Bem
a você!
PS. Tudo que escrevi e disse,
Vale,
também, se, mais tarde,
Decidir
ser cremado.