domingo, 30 de novembro de 2014

O CÂNTICO DE MARIA - Mário Barreto França

Tendo no coração um céu em flor
e nalma um mundo cheio de harmonia,
vendo que ia ser mãe de um Deus, Maria
ergue a voz em dulcíssimo louvor:

- "A minhalma engrandece ao meu Senhor
e meu ser canta e estua de alegria,
porque meu povo todo, neste dia,
é visitado pelo Salvador!

Pois Deus usou sua misericórdia,
para exaltar o humilde na concórdia
e abater o tirano em seu rancor!"

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Maria! que o teu cântico otimista
conclame os corações para a conquista
de um céu na terra, sob o sol do amor!

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

DESILUSÃO E ESPERANÇA I - Mário Barreto França

Brada sem esperança o homem desiludido:

- "Não há mais salvação para o mundo perdido!
Que importa fazer bem, se disso a recompensa
é a fuga, a ingratidão, o esquecimento, a ofensa?
Propagar a verdade e a justiça exercer
é o mesmo que subir à cruz para morrer!

O que impera no mundo é o crime e a traição:
Vence quem pode impor a fôrça do canhão;
a palavra empenhada é verbo sem valor;
o cinismo tomou o lugar do pudor;
compromisso nenhum possui mais importância;
a mestra modernista é a senhora ignorância;
o ensino corrompido e o estudo adulterado
é que vão solapando o alicerce do estado;
as próprias religiões esquecem seus fiéis
para viverem sempre em lutas sem quartéis,
a fim de conseguir política, hegemonia
da crença universal, da fé da maioria...
O lar já não é mais o asilo inviolável
nem tampouco a família é fôrça inquebrantável,
pois o pátrio poder é mera convenção,
e o próprio amor materno está sempre em função
de alguma conveniência ou de simples vaidade,
que até sobrepõe à personalidade...
Todos querem fugir aos mínimos deveres:
Interessam-lhes só os lúbricos prazeres,
nunca lhes importando o modo de alcançá-los,
e, para os conseguir, nos curtos intervalos,
roubam, matam e vão depois, cinicamente,
disfarçados, cada um, num esmoler ou crente
explorar a piedade ou a superstição
de um povo sem critério e sem educação.
A atitude modesta e franca do Messias
é vilmente trocada, agora em nossos dias,
pelo falso esplendor dos cerimoniais...
O mais enaltecido é o que aparenta mais
ser religioso, ou culto, ou muito interessado
pela situação do pobre ou desgraçado...
O lema é concordar com tudo o que fizer
aquele que o poder em suas mãos tiver...
Reduz-se à condição de anátema o idealista
que reprova e combate o abuso mandonista
dos senhores feudais e dos usurpadores
que condenam sem prova os edificadores
da heroica resistência `a toda escravidão,

política, social ou mesmo da razão,
porquanto a esses chacais somente lhes convêm
a atitude dos que lhes gritam: Muito bem!
Em meio a sociedade hipócrita e vaidosa,
a alegria é forçada e a crença é mentirosa...
Não! não creio em nais nada! A vida é ingrata e má!
Talvez somente a morte a dor me extinguirá;
do mundo enganador o excêntrico relógio
bateu a hora fatal do humano necrológio!
Malditos sejam, pois, a vida e o homem perverso,
que fizeram da guerra a deusa do universo!

Ouvindo esse clamor de justa indignação,
revoltou-se também meu triste coração,
pois, vendo em toda a parte o sofrimento humano,
só espera encontrar o amargo desengano
ao fim de uma existência em lutas consumida,
para alcançar o céu na escalada da vida...

DESILUSÃO E ESPERANÇA II - Mário Barreto França

Porém o homem de fé exclama comovido:

-"Amigo, vem e vê: Nem tudo está perdido!
A lâmpada do amor e o facho da verdade
inda brilham, mostrando o bem à humanidade;
Há muito coração piedoso, que não cansa
de pulsar e sorrir, radiante de esperança,
ministrando e vivendo o evangelho da graça
como aviso e convite ao descrente que passa...
A pronta solução aos problemas da vida
Não está em se ter fartura de comida
nem a paz aparente, e sim em procurar
viver como Deus quer, humilde a trabalhar
em bem do semelhante, amando ardentemente
as almas em perigo, as vidas dessa gente
que não crê em mais nada e que, no entanto, ainda
pode achar em Jesus a vida boa e linda,
pois a  felicidade e as íntimas venturas
estão na doce paz das consciências puras
que fazem da alegria e do prazer alheios
o motivo central dos seus castos anseios...
Dar tudo, sem pensar em qualquer recompensa,
é o fruto de quem vive a sua própria crença;
Cantar - tendo o feliz propósito de ungir
com o bálsamo da fé alguém que possa vir
a achar no Salvador, sempre sincero e manso,
a placidez de um lago, a sombra de um descanso;
Sorrir - tendo, porém, essa finalidade
de às almas irradiar uma felicidade;
Pregar - tendo o cuidado e o zelo de poder
nas mentes incutir a virtude de crer.
Vivendo e agindo assim, as tristezas e as doresserão como o frescor dos frutos e das flôresenfeitando um jardim onde o sol da alegria
festeja a exaltação da beleza do dia...
O orgulho, a inveja e o mal diante da plenitudedo amor que se fez luz transformam-se em virtude,
e é renúncia, e é serviço, e é desejo crescentede encorajar o fraco e de curar o doente, fazendo do labor as dádivas benditas,para os homens sem fé. para as almas aflitas...
Do mundo injusto e mau será transfigurado Quando o amor suplantar os erros do pecado...
A paz não se alicerça apenas nos contratos;
ela deve firmar-se em virtudes e fatos
que demonstrem que Deus, santíssimo e perfeito,
Já foi no coração da humanidade eleito,
como Pai, como Rei, como eterno juiz,
Aplicando as sanções para a tornar feliz.
Amigo, vem e vê: que ao lado de Jesus
a dor se transfigura em poemas de luz!
E, na mente liberta e na alma convertida,
inaugura-se um céu para a glória da vida!

Ouvindo essa canção de fé e esperança,
minh'alma renovou-se e encheu-se de bonança,
pois pôde descobrir na voragem do mundo
um porto em que floresce um Éden mais fecundo
e onde se pode achar, na alegria e na paz,
a ventura de um bem que não se extingue mais!
   



     
    

domingo, 16 de novembro de 2014

Rimas que Cessam - Mário Celso Rodrigues

Não mais aqui, mas, em outra pátria qualquer quero voltar a cantar e junto dos pássaros salmodiar...
Sentirei saudades das laranjeiras e dos Sabiás... Penso não suportar, das saudades e lágrimas que hei de derramar quando do peralta José, Clarissa e dos olhinhos celestes de Stella minha mente ocupar.

Preciso sair, me sentir livre... Mas, como tal sentir se aqui meu coração ficar?
Doloridas decisões... Como abandonar a nação que aprendi a amar?  Seu pavilhão com honra ao mastro conduzi e seu desfraldar emocionado pude contemplar... Quero fugir... Sair... Preciso livre me sentir

Não me sinto feliz... Minhas rimas cessaram, minhas inspirações não mais alimentam minhas emoções... Sentirei saudades das laranjeiras e dos Sabiás... Das peraltices do José, de Clarissa e Stella os doces e celestes olhares. 

Infeliz em ver minha amada pátria sendo solapada por indecentes e inescrupulosos... Infeliz em ver a terra mater desacreditada  nos continentes onde é citada... Sentirei saudades dos jatobás e dos Bem-te-Vis algazarreando em seus galhos...

Em ver a mentira tomar conta daqueles que, por dever, a verdade deveriam promover... Reverenciar! Em ver humildes trabalhadores se sujeitando a esmolas distribuídas por debochados que se perpetuam no poder, me sinto infeliz... Sentirei saudades dos Sabiás, dos Bem-te-Vis, das laranjeiras, das palmeiras e dos jatobás... De Stella, de Clarissa e do José a saudade me há de torturar... Preciso partir, não mais posso ficar...

Aprendi, mas, em armas me nego a pegar, não quero o teclado trair, prefiro amar as letras e com elas bailar...