segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Jesus gostou tanto daqui que quis voltar e ficar - Alex Carrari


Alguns místicos, que não deixaram nada escrito,
consideram que Jesus não chegou a penetrar
as mais altas repartições do céu
para ficar eternamente alerta/pontualmente interferente,
como pensamos e queremos, depois de ser elevado do chão.
Talvez tenha subido longe o suficiente e ficado atrás de alguma nuvem
e à hora que a aglomeração que, absorvida fitava sua subida, se dissipou,
ele ligeiramente voltou a ficar por aqui,
sem que os importantes o soubessem.


Há razão em ele ter querido voltar a ficar por aqui,
quando depois de reviver de três dias do sono da morte,
querendo puxar assunto, numa reunião entre amigos apavorados
quis comer qualquer coisa e lhe deram peixe e mel,
e se lembrou, pelo cheiro e pelo gosto, das delícias dos sentidos...
(de existir-se, gente).
Ao voltar na ressurreição devia estar mesmo faminto,
por isso foi à casa dos amigos.
Deve ter mesmo pensado em comer um bom peixe 
como fez em tantas casas quando se oferecia como visita
para comer e beber, dançar e quem sabe em último caso, pregar.

Os mesmos místicos acham que logo que voltou de trás de alguma nuvem,
em surdina, para que ninguém quisesse segui-lo de novo e começar tudo de novo, foi, sem alarde, passando e ficando em muitas casas, onde viviam os curados, os purificados, os libertados e os dignificados, por ele restaurados
quando atuava – antes de morrer – como ungido de Deus.

Com estes refez memórias, repassou lembranças, aceitou água para os pés.
E passava, dizem, horas infindas comendo e bebendo, dançando e contando histórias engraçadas suas sobre o que fazia da vida antes dos trinta, e ouvia arrebatado as histórias dos outros, em muito iguais as suas. 

Numa dessas casas ofereceram pão, peixe e de novo mel.
E seguiu-se a dança, o vinho e o pão.
Ele adorou.
Quando algum desavisado percebeu quem era aquele que dançava feito Deus
e tinha histórias muito de gente, chegou para Jesus e disse:
“Sei quem és, O Santo de Deus”.
Jesus solicitou para que não contasse a ninguém, muito menos aos religiosos,
para não estragarem tudo, pois, até acreditariam que ele ressuscitou, mas daí, sem menos nem mais, voltar a ficar por aqui dançando, comendo e contanto história, seria motivo para um segundo inquérito, só que dessa vez a pena capital seria pior que a morte (pior ao menos para ele, pelo pouco que dele se conta enquanto gente).

A pena: ser aclamado em praça pública como Deus. 
Chegando mais perto o que o reconhecera, impôs uma condição
para não espalhar a notícia do santo reconhecimento;
explicar o que fazia ele na terra depois de ressurreto
tendo o céu por herança.
Ao que Jesus respondeu, mostrando as marcas dos pregos nos pulsos e nos calcanhares e da lança no lado:

“O que faz um corpo no céu com estas marcas de ter existido?

Lugar de corpo marcado é na terra, por que dela nasceu e dela as recebeu,
assim como dela nasceu e nela vive tudo de que mais gosto”.
Então, o que o reconhecera reforçou o convite beijando-lhe as mãos:
“Chegue-se mais e sirva-se, caro irmão,
visto que é um dos nossos por nascer como nascemos,
receber as marcas que temos, viver como vivemos e gostar do que gostamos”. 

Os místicos que acreditam nessa história dizem que nessa ocasião Jesus ensopou o pão no mel e o cinzelou no peixe, com um sorriso no canto da boca e os olhos marejados, abençoou-os e orou:

“nunca fui tão feliz como agora”.

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