João 20: 11-16
(Poesia sobre a ressurreição)
Madrugada de luz, de paz e de
vitória...
Jesus ressuscitara em meio à
maior glória!
Por terra inerme, jaz, toda a
guarda romana
e a potência do Império, abjeta,
vil, profana
a intriga farisaica, o ódio
do judaísmo
varrido como pó no ardor do
cataclismo.
A cruz negra, de fel, para
sempre vencida,
e invés da guerra, o amor; e
invés da morte, a vida!
Maria Madalena o sepulcro,
bem cedo,
foi visitar levando a alma cheia de medo.
Temia a guarda. Era inda
escuro. A estrela
radiante da manhã, parecia
que, ao vê-la,
abria em leque, espadanando a
luz imensa,
como para o caminho seu
iluminar
e Jesus Ressurreto ao mundo
anunciar!
Umas flores ao braço e
bálsamo olorante
para a tumba de Quem, agora
tão distante
não pode mais ouvir gemer o
desgraçado,
nem o pobre sem pão, nem o
degenerado,
nem o cego sem luz, nem da
viúva tristonha,
ferida pela dor de saudade
medonha,
os queixumes de morte!
– Ele, que era tão santo,
que da mãe triste, e aflita
estancou tanto pranto,
que da doce criancinha a
cabeça afagou,
de tantos males, tantas dores
nos livrou...
Ele da morte está no cárcere
maldito,
Envolto no mistério abstruso
do infinito!
Para mim, que mulher outrora
era do mundo,
seu amor, foi supremo; e seu
perdão, profundo!
Dizia assim Maria, enquanto
caminhava
para o jardim sombrio onde o
sepulcro estava.
A dúvida pairava em seu
cérebro ardente
e o coração no peito arfava
tristemente!
O seu corpo, embuçado, era um
fantasma esguio
que passava na noite exânime,
de frio...
– Autômato, sublime, a
correr, todo alerta,
ia depor aos pés do “morto” a
última oferta
de um coração sangrando e uma
fé impoluta,
frutos do grande amor de sua
alma então sepulta!
Chegou. Eis o jardim de José
de Arimatéia,
um discípulo oculto, um nobre
da Judéia.
Aproximou-se. Ao longe, a
dúbia luz boreal
refletia no céu. Silêncio
matinal...
E sobre a enorme pedra – a
que a tumba fechava,
mais belo que o clarão da
Aurora que raiava
um ser angelical olha a tumba
vazia!
Maria Madalena ao vê-lo, se
extasia...
o seu rosto molhado em
lágrimas de dor,
– oh, se ela o visse! Tinha o tom divino, a
côr
do jaspe reluzente ao sol entrando
o Ocaso,
da luz a palidez no lago
argênteo e raso!
Esboçando um sorriso,
erguendo a fronte brada
o ser angelical, num toque de
alvorada:
Por que choras, mulher?
E ela o pranto oprimindo:
– Levaram meu Senhor...
E soluçando e saindo,
foi gemer tristemente a um
canto do jardim,
dando toda a expansão à sua
dor sem fim!
Nisto, encontra um varão bem
perto do canteiro,
a fitá-la de pé. Por certo o
jardineiro...
– Por que choras, mulher?
E ela, o pranto oprimindo:
– Levaram meu Senhor. Eu o
estou procurando.
Dize-me onde o puseste e o
levarei comigo,
pois é meu Rei, meu Deus, meu
Senhor, meu amigo!
E o jardineiro, olhando a sua
alma em agonia,
Descobre-se afinal, bradando
alto:
–
Maria!
Ela respondeu: – Mestre!
E cheia de ventura
ajoelha e o adora. A sua alma
esclarecida e pura,
tornou-se num jardim de gozo e de dulçor.
Onde o húmus era a fé, onde a
seiva era o amor,
as flores o perdão, e o
trescalar ativo,
a epopeia sem par do Cristo Redivivo!