Mais
de meio século... Tudo bem diferente... Tudo muito vivo... Exuberâncias que o
tempo insiste em apagar de minhas lembranças. Memórias vivas que não sairão de
minha alma enquanto forças houverem para sorver o nobre gás – essência da vida.
Mais de meio século, nem tudo está diferente, ainda há um sentimento que tentam
mudar, trazê-lo a modernidade... Continuo amando e sendo amado como na
antiguidade... Não importa a idade, as mesmas borboletas que bailavam se
cortejando por entre rosas, continuam nos salões de meu jardim... Posso ouvir o
barulho das muitas águas que agitadas se apressam a caminho dos oceanos.
Mais
de meio século... Todas as manhãs... Tudo... Não tão diferente. Não só um, mas, todos os tenores das
florestas... Também os barítonos sabiás e, os baixos, contraltos e sopranos.
Orquestras e corais... Mais de meio século... Tudo muito igual quando se tem o
vivo e ardoroso sentimento do amor impulsionando o coração... O Sol brilha
forte e a lua, sua enamorada, passeiam de mãos dadas por entre arrebóis.
Se
foram mais de meio século. Leves toques na porta do meu coração, insisto, não
quero abrir... A saudade entra, a canção que sai de seus lábios vai tomando
espaço e já domina todo o ambiente... Mais de meio século, os caramanchões de “bougainvilleas”,
vermelhos tal a cor da paixão. A doce voz de minha mãe... Enérgicos e suaves
comandos de meu pai... Meu irmão, que ingrata saudade me fere a alma. Na glória
passeando por celestes caminhos, uns verei no porvir... Outros... Meus olhos
embargam a voz quando em minhas súplicas clamo ao Pai o querer vê-los também.
Não
sei se mais meio século viverei, feliz me sinto nos tantos que já vivi...
Voltar e revivê-los, impossível... Nos é destinado pelo Sábio Criador somente
uma vez passarmos pela vida e... amar... boas sementes plantar... doces frutos
colher e deles nos deliciar. Agradeço a Deus as saudades que hoje sinto... Até
meus últimos instantes quero amar, não como antigamente, mas, como sempre...
Primaveras e saudades, que sejam fartos nos jardins de todos os que amei e dos
que ainda amarei.
E, se no caminhar pela estrada florida com
destino ao centenário, o Criador resolver interromper o meu jornadear... Irei
feliz como um menino, pezinhos descalços... Cabelos desalinhados pelos ventos
do transporte e, no coro celestial, serei barítono e enlevarei minha voz e
cantarei louvores e salmodiarei por indefinidos decênios... Cinquentenários...
Centenários... Amor eterno... Vida eterna junto do poderoso Deus!
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