domingo, 28 de setembro de 2014

ORQUESTRA - Mário Celso Rodrigues

canção que a orquestra toca
transporta-me para junto de ti...
Ouço a melodia de tua voz. 
Por campos floridos viajo,
abrindo caminho por entre
doirados girassóis.
Me acompanha sentimentos...
Carências afetivas,
e, saudades do calor 
que me transmite teu falar.

Corro veloz,
impulsionado pela melodia
que comparo à sua voz.
No horizonte espero te encontrar,
braços abertos, 
transbordando de carinhos...
Quentes lábios que emudecem os meus,
beijos calados, apaixonados. 
Ardendo no peito,
a leve música do teu falar.

Não mais da orquestra a canção,
mas sentimentos, olhares trocados,
envolvo-te com ternura, recebo afeto...
Fazes-me reviver... Crer... Teu amor...
Somente a Deus agradecer.  

    



DESEJO - Gonçalves Dias

Ah! que eu não morra!
Sem provar ao menos sequer
por um instante nesta vida
amor igual ao meu.

Dá, Senhor Deus
que eu sobre a terra encontre,
um anjo, uma mulher, uma obra tua
que sinta o meu sentir.

Uma alma que me entenda
irmã da minha
que escute meu silêncio
que me siga
dos ares na amplidão

Que em laços estreitos
unidas, juntas, presas
deixando a terra e o lodo...
Aos céus remontem
num êxtases de amor.

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

O Tempo - Laurindo Rabelo da Silva

Deus pede estrita conta do meu tempo,
é forçoso do tempo a dar conta:
Mas, como dar sem tempo tanta conta!
Eu que gastei sem conta tanto tempo!

Para ter minha conta feita a tempo;
dado me foi bom tempo e não fiz conta,
não quis,    sobrando tempo fazer conta,
quero hoje fazer conta e falta tempo.!

Oh! vós que tendes tempo sem ter conta,
não gasteis esse tempo em passa-tempo,
cuidai, enquanto é tempo, em fazer conta.

Mas, oh! se os que contam com o seu tempo
fizessem desse tempo alguma conta,
não chorariam sem conta o não ter tempo

TEMPO - Olavo Bilac

Sou o tempo que passa, que passa,
sem princípio sem fim sem medida!
Vai levando a ventura e a desgraça,
vai levando as vaidades da vida!

A  correr de segundo a segundo,
vou formando os minutos que correm...
Formo as horas que passam no mundo,
formo os anos que nascem e morrem

Ninguém pode evitar os meus danos...
Vou correndo, sereno e constante:
Desse modo de cem em cem anos,
formo um século e passo a diante.

Trabalhar porque a vida é pequena,
e não há para o tempo demoras!
Não gasteis os minutos sem pena!
Não façais pouco caso das horas!

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

O Livro e a América - Castro Alves

Talhado para as grandezas,
pra crescer, criar, subir,
o Novo Mundo nos músculos
sente a seiva do porvir.
- Estatuários de colossos -
Cansados doutros esboços
disse um dia Jeová:
"Vai Colombo, abre a cortina
da minha eterna oficina...
Tira a América de lá".

Molhado inda do dilúvio,
Qual Tritão descomunal,
o continente desperta
no concerto universal,
dos oceanos em tropa
um - traz-lhe as artes da Europa,
outro - as bagas do Ceilão...
E os Andes petrificados.
Como braços levantados,
lhe apontam para a amplidão.

Olhando em torno então brada:
"Tudo marcha!... Oh grande Deus!
"As cataratas - pra terra,
as estrelas - para os céus".
"Lá, do polo sobre as plagas,
o seu rebanho de vagas
vai o mar apascentar..."
"Eu quero marchar com os ventos,
com os mundos... com os firmamentos!!!"
E Deus responde - "Marchar"!

"Marchar!... Mas como?... Da Grécia,
nos dóricos Partenons,
a mil deuses levantando
mil marmóreos Panteons?...
Marchar com a espada de Roma
- Leoa de ruiva coma.
Saciando o ódio profundo...
De presa enorme no chão,
saciando o ódio profundo...
- Com as garras nas mãos do mundo.
- Com os dentes no coração?...

"Marchar!... Mas com a Alemanha
na tirania feudal,
levantando uma montanha
em cada uma catedral?...
Não!...Nem templos feitos de ossos
nem gládios a cavar fossos,
São degraus do progredir...
Lá brada Cesar morrendo:
"No pugilato tremendo
Quem sempre vence é o porvir!"

Filhos do século das luzes!
Filhos da grande nação!
Quando ante Deus vos mostrardes,
tereis um livro na mão:
O livro - esse audaz guerreiro
que conquista o mundo inteiro
sem nunca ter waterloo...
Elo de pensamentos,
que abrira a gruta dos ventos
donde a igualdade voou...!

Por uma fatalidade
dessas que descem do além,
o século que viu Colombro,
viu  Guttemberg também.
Quando no tosco estaleiro
da Alemanha o velho obreiro
a ave da imprensa gerou...
O genovês salta os mares...
Busca um ninho entre os palmares
e a pátria da imprensa achou...

Por isso na impaciência
desta sede de saber,
como as aves do deserto
- As almas buscam beber...
Oh! Bendito o que semeia
livros... livros à mão cheia...
E manda o povo pensar!
O livro caindo na alma
É gérmen - que faz a palma.
É chuva - que faz o mar.

Vós que o templo das ideias.
Largo - abris às multidões,
para o  batismo luminoso
das grandes revoluções,
agora que o trem de ferro
acorda o tigre no cerro
e espanta os caboclos nús,
fazei desse "rei dos ventos".
- Ginete dos pensamentos,
- Arauto da grande luz...!

Bravo! a quem salva o futuro,
fecundando a multidão!
Num poema amortalhada
nunca morre uma nação.
Como Goethe moribundo
Brada "Luz" o Novo Mundo
num brado de Briareu...
Luz! pois, no vale e na serra...
Que, se a luz rola na terra,
Deus colhe gênios no céu...!








quarta-feira, 17 de setembro de 2014

REMINISCENCIAS I - Mário Celso Rodrigues



Foto Flight Aware















Rua Capitão Paulo,
da casa a varanda era o palco
de brincadeiras e sonhos,
condutor de locomotivas,
ou quem sabe aviador?
Num cepo de madeira, duas manivelas,
eram freio e acelerador;
na boca um zumbido estranho
imitava o ronco do motor.
Não havia confusão – às vezes era um trem,
de quando  em quando um avião.

Na estrada do Engenho Novo;
padaria nova inaugurou.
E, quando dava na veneta
Dia amanhecendo – sol vermelho no arrebol
Feliz ia correndo – dinheiro enrolado na mão
Comprar um litro de leite
E um saboroso e quentinho pão.

Meu irmão, que implicante era,
pegava no pé, sem tréguas sequer.
Em cerradas e infantes disputas
Mais velho e mais forte eu tinha que ser,
mais forte e esperto queria ele o poder:
-Meninos parem com isso -
Enérgica e doce de minha mãe era a voz...
Depois de dura carraspana,
voltava à velha máquina de costura,
pois n’alguma calça quase pronta
tinha que terminar o “cós”.

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

HABACUQUE - Israel Belo de Azevedo

                                            
                                          
  
Ainda que a vida hoje não floresça,
partida por perda que traz do abismo a beira,
roída na raiz pela dor da doença,
que prontidão atenta e absoluta requeira.

                  Ainda que entre os meus, a dissonância cresça,
                  minha alma se seque como estéril figueira.
                  Do que tenho apenas reste uma rala esteira,       
                  e meu próximo momento eu não conheça.

Eu orarei ao Pai para que me sustenha,
eu esperarei que seu sustento me venha,
até que Ele me sussurre suas respostas.

                  Porque sei que toda a minha angústia Ele sente,
                  porque sinto que comigo Ele está presente,
                  Eu agora me lanço sobre suas costas.

sábado, 6 de setembro de 2014

CANÇÃO DO EXÍLIO - Antonio Gonçalves Dias



Minha terra tem palmeiras,
onde canta o sabiá.
As aves que aqui gorjeiam,
não gorjeiam como lá.

                             Nosso céu tem mais estrelas,
                             nossas várzeas tem mais flores,
                             nossos bosques tem mais vidas,
                             nossa vida mais amores. 

                                                                         Em cismar sozinho à noite.
                                                                         Mas prazer encontro eu lá,
                                                                         minha terra tem palmeiras
                                                                         onde canta o sabiá.
 
Minha terra tem primores,
que tais não encontro eu cá,
em cismar sozinho a noite,
Mas prazer encontro eu lá.

                                     Minha terra tem palmeiras,
                                     onde canta o sabiá.

                                                                          Não permita Deus que eu morra,
                                                                          sem que eu volte para lá.
                                                                          Sem que desfrute os primores,
                                                                          que não encontro por cá.

Sem que inda aviste as palmeiras,
onde canta o sabiá.  

A PÁTRIA - Olavo Bilac


 Ama, com fé e orgulho, a terra em que nasceste!
 Criança! não verás nenhum país como este!
 Olha que céu! que mar! que rios! que floresta!
 A Natureza, aqui, perpetuamente em festa,
 É um seio de mãe a transbordar carinhos.
 Vê que vida há no chão! vê que vida há nos ninhos,
 Que se balançam no ar, entre os ramos inquietos!
 Vê que luz, que calor, que multidão de insetos!
 Vê que grande extensão de matas, onde impera
 Fecunda e luminosa, a eterna primavera!
 Boa terra! jamais negou a quem trabalha
 O pão que mata a fome, o teto que agasalha…
Quem com o seu suor a fecunda e umedece,
 Vê pago o seu esforço, e é feliz, e enriquece!
 Criança! não verás país nenhum como este:
 Imita na grandeza a terra em que nasceste!

sexta-feira, 5 de setembro de 2014

DESCIDA DE CRISTO EM CAMPINA GRANDE - Mário Celso Rodrigues

Inspirada no poema de Gióia Jr. “Descida de Cristo em São Paulo




Tendo resolvido
que deveria descer em Campina Grande ,
assim pensou e assim fez.
Não escolheu, no entanto,
o Parque do Povo ou o Açude Novo
que é onde se realizam os grandes comícios
e as grandes concentrações.
Não fez nenhuma propaganda no rádio, na televisão e nos jornais.
Não viu nenhuma necessidade em preparar a campanha de sua vinda
com frases de “suspense”:
“ele vem vindo, logo ele vem, aguardem a sua vinda”,
simplesmente dispensou todos esses artifícios.
Não quis cores vermelhas ou amarelas ou lilazes
nos disseminados cartazes de “out door”,
ficaria mal ao lado de anúncios “da Caranguejo e da Vogue”.
Nem mesmo volantes em papel-jornal amarelo e cor-de-rosa aceitou.
E resolveu que viria só,
nada de secretários e grupos de preparação
e equipes de propaganda
e pequenos coros de anjos de gravatas borboletas
e orquestras sanfônicas e bandas de forró.
Veio só.
Veio com seus próprios recursos,
 pela sua própria força,
sem se utilizar de luxuosos jatos executivos
ou de farfalhantes e nervosos helicópteros.
Não deu nenhuma volta espetaculosa no céu azul
e ensolarado da cidade, não aceitou chuva de pétalas de rosas
nem papéis picados doirados e prateados,
holofotes e desfiles.

Desceu anonimamente
no bairro do Jeremias
e foi conversar com os moradores
que comentavam as novelas e coisas do cotidiano
 à porta de casa, após o almoço,
(Será preciso esclarecer que Ele falava nordestinês
 sem sotaque aramaico?)
As donas de casa nem de leve o confundiram
com os camelôs da política, que fazem proselitismo
às vésperas das eleições,
nem com os que vêm para semear discórdia ou ódio.

Como os seus irmãos camponeses
dois mil anos atrás,
caíram de joelhos e ficaram maravilhados.
E reiniciaram, com aquele mesmo entusiasmo
do Cristianismo primitivo
o anúncio ao mundo do Evangelho sempre novo
como no passado.

Antes de ir ao Catolé, Mirante ou Alto Branco,
Cristo falou primeiro aos simples.
E como lembrança Campinense dessa visita de Jesus,
o povo que andava em trevas,
viu uma grande luz!!!