Em minhas meditações, voltei aos meus tempos de criança... Dos momentos que minha mãe ou meu pai, que nada entendiam de psicologia, por alguma travessura precisavam me corrigir; confesso que senti saudades de meus tempos de "moleque". Levei umas poucas varadas, fui colocado de castigo por algumas vezes, outras, era duramente chamado a atenção... E então volto a dizer que sinto saudades dos meus tempos de "guri", sinto saudades do carinho de minha mãe que dizia estar fazendo aquilo - me repreendendo - por que me amava, sinto saudades de meu pai me ensinando a pedir desculpas, sinto saudades da sabedoria dos dois que desconheciam as ciências modernas de se educar filhos.
Mesmo com pouco conhecimento das letras... Sempre e sempre, ouvia, quieto sentado em um banquinho o capítulo treze do primeiro livro de Coríntios, não entendia, hoje entendo o filete de lágrima que escorria dos olhos de minha mãe enquanto lia.
A emoção que neste instante toma conta de mim, fez-me procurar um poema que fala deste amor incondicional descrito pelo apóstolo Paulo neste texto...
... Meu saudoso amigo e poeta Gióia Jr. numa inspiração celeste escreveu " A caridade". Vejam que sublimidade a descrição do verdadeiro amor.
Se eu soubesse falar a linguagem dos santos
e a dos homens também; se dons tivesse tantos...
não tendo caridade, os mais preciosos dons
seriam como o bronze a desfazer-se em sons;
como um címbalo estranho, eu louco vibraria.
Se a mim me fosse dado o dom da profecia;
se a minha poderosa e viva inteligência
retivesse em seu cofre os mistérios da ciência;
seu eu tivesse em meu peito a fé viva e sagrada,
não tendo a caridade, eu não teria nada.
Se, em gesto de renúncia, em atitudes nobres,
meus haveres, meus bens eu desse para os pobres;
se, em sacrifício ideal e intenção verdadeira,
entregasse o meu corpo à lágrimas da fogueira,
porém, sem caridade, em maneira impensada,
minhas dores cruéis não valeriam nada.
Longânime e benigna e sem jactância e sem
esse ar sacrificial e sofredor de quem,
oferecendo, busca, e, ofertando, deseja,
ela é sem interesse e também sem inveja.
Não se ira, não suspeita a santa caridade,
abomina a injustiça e proclama a verdade.
Seu seio é, para o bem, o mais precioso cofre;
tudo suporta, crê, espera e tudo sofre.
Se existe profecia, o seu dia aparece
e ela se cumpre. É como a flor, vive e fenece;
se existe língua, um dia, arde como os incêndios,
e outro dia, se faz nas cinzas dos compêndios.
A ciência é um edifício, um mundo que desaba,
porém a caridade, essa jamais se acaba!
Em parte vemos hoje e expomos o conceito,
mas um dia virá em que, tudo perfeito,
o que hoje o mundo vê de um modo parcial,
amanhã, poderá ver na forma total...
Um dia eu fui menino, o mundo pequenino
que eu via era somente um mundo de menino...
Hoje compreendo mais e desde que, sereno,
meço e observo, deixei as coisas de pequeno.
Hoje é como se a nossa ilusão se espelhasse,
mas um dia, porém, veremos face a face.
E o que conheço em parte (a parte que hei vivido)
conhecerei por fim, como fui conhecido.
Se ainda os homens estão corajosos, de pé,
devemos à Esperança e à Caridade e à Fé.
Permanecem as três virtudes, na verdade,
mas a maior das três se chama: "A Caridade"!