terça-feira, 27 de novembro de 2012

O DESPERTA NA ROÇA - Mário Celso Rodrigues

Com os zóio inda turvo esticano gostoso os osso; madrugada inda iscura. No poleiro o garnisé cantando, disputando com o carijó. As poedera se cumprimentando... Um cacarejá que só... Um poquim mais adiante, a Malhada sorta um mugido, no chiquero isfomiado reclama Chicó. Nos gáiu do abacatero a confusão dos pardá, e no pé de jatobá alegre canta o sabiá. Eta dispertar, qui festa! Num tem de que reclamá. Num pulo, sarto da cama. Mariete já num tava lá, muié isperta, foi o café aprontá. Por entre as fresta da janela, o vermeião do sol vi dispontá, dei um Glória a Deus, Aleluia! Que dia bom pra trabaiá! Nos passo ligero dum bom caipira, na cuzinha dipressa quis chegá. Marieta bunita num vistido de chita, leite e café, biscoito de nata, do mio verdi a pamonha e tinha também bolo de fubá, lá vinha os mininu acabano di acordá. Nos dois lado da mesa, os banco pra si sentá. “O Sinhô e meu pastô, nada mi fartará...”. O minino maió aprendeu a soletrá, bonito é Marieta cantando os hino que louva ao Sinhô e o pequenino repitino: “gólia, gólia, Salvadô” O missionário chama Zé Lino pra estudá, minha bela companhera tem a casa prá cuidá. Pequeno Tuninho vive pra traquiná. Coloco a inxada nas costa, o orvaio moiando a butina. A passo firme vô pra roça, tenho a famia pra sustentá! É duro o trabaio no campo, o mato que tenho de roçá. Aprontá a terra pra semiá, tem os animá pra cuidá... Mas Deus dá uma força danada. Fica leve o labutá, E no final do dia, a Deus quero louvá. O sol tá no arto, istômago roncano, deve de sê meio dia, pro rancho vô caminhano. No meio do caminho topei com Zé Lino, minino isperto, dicidido, qué sê pastô,veio falano. Ouvino suas historia no rancho cheguei sonhano. Tuninho também com o missionário iniciô a lê, prus minino da fazenda diz que doutô vai sê. O orvaio moiando a butina. A passo firme vô pra roça, Vô meus corim cantano, cantano o prazê qui sinto. É o coração do caipira, lavado pelo sangue de Cristo. E todo o dia renasce a felicidade, não minto! Os ano si passaro, Zé Lino é pastor, e na cidade grande, de Cristo anuncia o amor, e o missionário pro estrangero vortô. Aprendeu a lê Marieta e a outros ensina com dulçô. O traquina do Toninho, dotô Antônio se tornô. Com carinho trata us infermo, aliviando sua dô. E continua exartando: Glória, glória ao meu Senhor!

DUAS ROSAS - Castro Alves

São duas rosas unidas, São duas flores nascidas Talvez no mesmo arrebol. Vivendo no mesmo galho, Da mesma gota de orvalho, Do mesmo raio de sol. II Vivendo... bem como as penas Das duas asas pequenas De um passarinho no céu. Como um casal de rolinhas como a tribo de andorinhas Da tarde no frouxo véu. III Vivendo, bem como os prantos Que em parelhas descem tantos Das profundezas do olhar. Como o suspiro e o desgosto, Como as covinhas do rosto, Como as estrelas do mar. IV Vivendo... ai, quem pudera, Numa eterna primavera, Viver qual vive esta flor. Juntar as rosas da vida Na rama verde e florida, Na verde rama do amor

sábado, 3 de novembro de 2012

AO PEQUENO PASTOR (Mário Celso Rodrigues)

Porque tu és de estatura “franzina”, quando te empertigas e o semblante muda. As palavras que proferes - não são tuas... Os vigorosos gestos – que também não são teus. Me fazes pensar no pequeno Davi... Também pastor... Com ousadia enfrentando o gigante dos filisteus. Em meus cismares pergunto – Oh! franzino pregador das garras do leão e do potente urso, do vil tentador e das ciladas do mal, quantas foram as vezes que te livrou o Senhor? Como no passado, hoje te incomodaria... Capacete, fardamentos, escudo e espada; o peso não suportaria. Com garbo tomaste a Bíblia – o cajado. Os seixos – de Deus a palavra que flui e nos lança; servos e ungidos do Senhor, exterminando armadilhas, astutas ciladas. Continue intrépido... Valente e franzino pregador!

POESIA TEU NOME É MULHER (Mário Celso Rodrigues)

Poetizar a própria poesia, tarefa difícil para o mais excelente poeta. A criação, por si já é uma poesia escrita por Deus... Que era bom Ele já sabia! Quanta alegria aos nossos olhos as aves multicores e, aos nossos ouvidos, suas melodias! Mexe o nosso sentimento a sanguínea e quente rosa cortejada pelas borboletas. O sorriso de um bebê arrebata a inspiração do mais rude e também do poeta. Toda a criação por si, repito, foge ao domínio do pensador e também do que verseja... Todo o criador tem uma obra perfeita, tanto mais, tem Aquele que nos criou... ... Com seu poder infindo, Divina inspiração... Os olhos tristes da criatura primeira, motivo da certeza de uma solidão, comoveu o feitor de tão grande criação. Iniciando sua obra prima, a mais bela poesia que todo poeta almeja. Ser sublime, instintos nobres, harmoniosa beleza... Generosa em qualidades, divina orquestra e sinfonia em seu expressar... ... Poesia que ainda hoje Deus verseja. Obra prima em sua essência ... Poesia seu nome é mulher! Não importa se tens muito, pouca ou nenhuma cultura, és a poesia que embala a vida. És, mulher, resultado de orações respondidas... És rubras rosas que embelezam os jardins de nossas vidas! Que Deus as abençoe sempre, e a nós, sabedoria para que saibamos reconhecer que, não és somente uma poesia, mas também dádiva de Deus para nossos dias