sábado, 22 de dezembro de 2012

Grande Cantata de Natal - Gióia Jr.


Cantarei o natal,
mas o natal acontecimento,
o Natal exato,
realidade confortadora e simples,
o Natal sem sonhos.

Não o natal de Papai Noel,
de São Nicolau,
do trenó sobre a  neve,
do buraco da fechadura,
da chaminé delgada e escura,
do farnel de brinquedos...
Não! Esse, positivamente, não é o Natal,
Esse é um natal de mentira,
Inventado por alguém sem imaginação.
Não e não!
Postiço e falso é o natal dos brinquedos:
da árvore de bolas amarelas, verdes,
vermelhas, azuis, prateadas, douradas,
espelhando rostos alegres,
alongando e diminuindo feições sorridentes,
natal dos sapatinhos sob a cama,
dos olhos marotos do menino rico,
dos olhos parados do menino pobre.
 
Natal dos brinquedos:
a bola de futebol novinha cheirando a couro,
a boneca de porcelana
que fecha os olhos e tem vestidos ricos,
o aeromodelo, elegante e leve,
quebrando os copos da cristaleira,
os bibelôs do quarto,
aterrissando nas panelas da cozinha:
“Menino, vá para o quintal!”
 
Natal dos embrulhos que guardam mistérios,
embrulhos  de sonhos, de risos, de vida,
natal dos olhos curiosos.
A árvore verde
tem loucas vertigens e visões fantásticas:
veste-se de algodão
e debruns e estrelas
e lâmpadas coloridas
que riem o risinho do pisca-pisca:
“apagou... acendeu...  apagou... acendeu...”
Não! Esse, na verdade, não é o Natal!
 
... E o presepe animado
do trenzinho correndo nos trilhos sinuosos:
“entrou no túnel comprido,
saiu da ponte, desceu a serra;
um operário malha a bigorna
ritmadamente,
os animais movem as cabeças”
Não! Esse não é o Natal!
 
... E a mesa farta:
leitões assados com rodelas de limão
sobre o corpo tostadinho,
o peru recheado,
de peito aureolado em farofa cor de ouro,
os frangos,
as frutas, as passas,
as ameixas pretas,
as tâmaras morenas,
avelãs, nozes, castanhas...
bebidas, bebidas, bebidas
escorrendo, gotejando, geladas, loiras, espumantes.
Não! Esse é o natal-glutoneria!
 
Natal injusto é esse
que divide castas
e separa classes
e alegra os ricos
e esmaga os pobres...
Maldito seja o natal que os homens inventaram
para que a mãe pobre o celebrasse chorando,
resistindo aos apelos:
- Eu quero uma boneca!
E  às perguntas:
- Papai Noel não vem?
E às queixas:
- Eu tenho fome! EU TENHO FOME!
 
Maldito seja o natal-privilégio dos ricos
que se mostram generosos
e distribuem migalhas aos pobres
para comprar , com esse gesto, um terreno no céu:
um belo terreno de esquina
com muitos metros quadrados
em avenida principal.
Já disse e repito:
Maldito seja esse falso natal,
esse mesquinho natal,
esse corrompido natal!
... E o natal-cumprimento:
telegramas urbanos,
parabéns, felicitações,
carta aérea, leve e curta,
bilhete escrito às pressas,
frase oca e vazia
bordada num cartão postal?
- Esse é o natal-hipocrisia
e está longe de ser o perfeito Natal!
 
Natal é muito mais:
É visão, esperança, certeza, humildade,
Pastores, madrugadas, estrebaria,
E José e Jesus e Maria
e bondade e alegria!
 
Cantarei o Natal!
“Dormem no campo os pastores,
Os que tangem rebanhos sonhando.
Dormi, pastores, que a noite é um lírio
Perfumado e eterno, branco e silencioso,
Dormi como justos,
como crianças travessas,
um sono leve e escuro, macio e indevassável,
deixai que a terra úmida
aconchegue vossos corpos.
 
Despertareis em sonhos,
despertos sonhareis a visão almejada.
Abrem-se os céus como sulcos oceânicos
e embriagadora música emoldura a paisagem,
despertam figuras,
são anjos de largas e leves e rosadas asas,
brancas e celestes asas de pássaros gigantescos.
Despertai, homens do povo!
Humildes pastores das campinas verdes, despertai!
Anjos inquietos, suaves e claros
cantam em coro
e que ouvidos humanos jamais ouvirão...
escutai, pastores!
e guardai o cântico!
Guardai-o para que não dilua,
guardai-o para que ainda o ouçamos
e dele falemos pelos séculos dos séculos. Amém.”
 
Glória a Deus nas alturas!
Glória a Deus nas alturas!
Repitam os campos e os astros e as sombras
e a noite, nas trevas que se movem vagarosas,
e a terra quente, laboriosa e humana:
Glória a Deus nas alturas!
E as muitas águas,
e as pedras escuras, lascadas, fendidas,
suspensas no abismo como gesto atrevido,
e as folhas verdes bailando e sorrindo
como dedos de criança,
e o capim cheiroso que as ovelhas comem,
e as sinuosas vertentes transparentes e ágeis,
repeti o coro que os anjos ensinam:
Glória a Deus nas alturas
e Paz na Terra aos homens de boa vontade!
 
Paz na Terra!
Apesar das bombas e dos acordos diplomáticos,
apesar do nevoeiro denso
que escondem navios compridos, cinzentos e armados,
apesar do ronco dos aviões a jato,
dos estampidos supersônicos,
dos campos de concentração
onde os velhos mordiscam a morte
e os moços já não existem,
apesar das bandeiras
das muitas bandeiras nervosas e bailarinas,
das inquietas bandeiras de asas mutiladas,
apesar da vingança e da conquista,
dos aleijados, dos órfãos, das viúvas,
apesar dos cadáveres sem túmulos,
expostos e pisados,
apesar da insânia,
das fronteiras,
do ódio velado, do profundo ódio
dos que foram derrubados mas não se perturbam,
apesar das experiências atômicas,
Paz na Terra!
Paz na Terra aos homens de boa vontade!
 
Eis o Natal, criaturas,
Vinde bebê-lo sem o auxílio de vasilhas e potes de barro
dos muitos países,
vinde bebê-lo com as mãos em concha,
com quem se salva!
 
Vem de longe os magos:
são silhuetas
que os raios da estrela,
que os fios dourados da estrela do Oriente
puxam, fazem andar, fazem parar, ensinam...,
Vêm de longe os magos
para a fonte da água...
 
Ouço vozes longínquas,
vozes ciclópicas, abafadas pela distância,
mas nítidas, definidas, exatas,
são vozes proféticas anunciando o tempo:
Isaías, Jeremias, Davi...
Essas vozes completam o Natal,
definem e traduzem o Natal perfeito
ouço vozes que cantam num coro harmonioso,
não há dissonâncias, nenhuma sequer.
 
O menino dorme
Embalado pela estrela,
José medita,
Maria sorri...
Sorri pelos olhos, pela boca, pelo corpo,
Acariciada por essa alegria repousante
que é ser mãe.
Os magos estão curvados
numa atitude obediente,
chegaram de muito longe
para viver o Natal!
Os pastores cantam, os pássaros deslizam,
não há nada morto,
tudo é vida abundante,
eis o Natal!
 
Cantarei o Natal!
Glória s Deus nas alturas e Paz na Terra aos homens!
Ecoe meu cântico pelas cercanias indevassáveis,
Inunde os templos como vendaval impetuoso,
aqueça choupanas e famílias pobres,
alimente pobres,
acenda nos olhos do menino triste
o suave brilho da esperança presente,
alimente pobres com o pão macio,
branco e generoso, perfumado e quente.
 
Sacuda cidades o meu puro cântico
e destrua planos de vingança e ódio.
Proclame o saltério,
respondam as cordas, confirmem os arcos,
com maviosas vozes, doces, sussurrantes,
gritem as trombetas,
chorem as mulheres,
repitam os homens,
cantem as crianças...
 
O Natal é isto:
Um misto de luzes e vidas, um misto
de perdão e calma...
mas calma profunda que nos satisfaz.
O Natal de Cristo
É o cântico eterno da perfeita Paz...
da Paz- verdadeira, da Paz-humildade,
dessa Paz sincera proclamada aos homens
de boa vontade:
 
Paz na Terra aos homens 
de boa boa vontade!

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Maior Amor - Mário Celso Rodrigues


 

       
Meu coração salta de meus domínios,
o ser por inteiro foge ao meu controle.
Por completo um tremor me toma.
Então desperto e percebo o quanto sou amado,
amado por aquele que tudo criou
e por me amar toma conta de meus dias,
os dias que me permite viver.
E a cada dia uma vitória, uma explosão
que me toma por completo, e transforma
em prazer e alegria contagiante
toda e qualquer agrura que o mundo,
mal e egoísta tenta me impor.
 
A confirmação deste amor sem igual,
esta num luar que encanta meus olhos.
No trinar dos pássaros que me despertam,
no sorrisso de minha amada.
no ouvir de um pequeno, na vida iniciante,
a demonstração do carinho inocente,
do ancião com tremula voz,
dizendo não haver herança de mais
elevado valor que o amor.
 
Mas a demonstração maior,
não sendo eu merecedor,
foi o envio do próprio filho
para padecer, sofrer e ser humilhado.
Não só por mim, mas a todos
quanto o aceitar,  Aceitar aquele
que por amor em uma infame cruz
seu sangue derramou.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Estrela do menino pobre - Gióia Jr.



Uma estrela pequenina,
cintilante de brocal,
anuncia, na vitrina:
hoje é noite de Natal.

        O menino da favela,
        sem camisa, pés no chão,
        acha a estrela muito bela
        e quer tê-la em sua mão.

             Por amá-la e por querê-la,
             fica tempo a meditar:
             como é bela a mina estrela!
             e, depois, põe-se a chorar.

                          Um milagre, enquanto chora,
                          Deus acaba de operar:
                          e o menino vai-se embora
                          c'o uma estrela em cada olhar!
                                

          

Acalanto para o menino Jesus - Gióia Jr.






Dorme, criança repousa
ao beijo da brisa mansa,
a própria estrela não ousa
Teu soninho perturbar.
Descansa, agora descansa,
como a terra, como a lousa,
porque mais tarde, criança,
não podereis descansar.


                                                        As trevas são mornas vendas;
                                                        fecha os olhinhos, infante,
                                                        pouco importam oferendas
                                                        vindas de Terra Distante.
                                                        Apaga o olhar meigo e langue,
                                                        que amanhã, ao despertar,
                                                        terás lágrimas de sangue,
                                                        em vez de calmo sonhar...

Descansa os róseos pezinhos
- Aves de claras plumagens -
amanhã, quantos caminhos
esses pés hão de trilhar!
E depois, ao fim das viagens
com lanças, cravos e espinhos
hão de fazê-los sangrar...

                                                      Dorme, criança travessa,
                                                      a noite é macia e boa,
                                                      amanhã torpe coroa
                                                      ferirá Tua cabeça...
                                                      Rolarão pelos espaços
                                                      as longas horas, Jesus,
                                                      hão de crescer os Teus braços
                                                      sob a medida da cruz.

Sejam-Te os versos que escrevo,
neste momento de enlevo,
a paga do que Te devo
pelo que me dás do céu.
Dorme, Cristo Imaculado,
pois serás crucificado
e eu sou o maior culpado,
o mais desprezível réu!   

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

NATAL -- Olavo Bilac


                                                               
Jesus nasceu! Na abóbada infinita
Soam cânticos vivos de alegria;
e toda a vida universal palpita
dentro daquela pobre estrebaria...

                                        Não houve sedas, nem setins, nem rendas,
                                        no berço humilde em que nasceu Jesus...
                                        Mas os pobres trouxeram oferendas
                                        para quem tinha de morrer na Cruz!

Sobre a palha, risonho e iluminado
pelo luar dos olhos de Maria,
vede o menino Deus que está cercado
dos animais da pobre estrebaria.

                                       Não nasceu entre pompas reluzentes;
                                       na humildade e paz deste lugar,
                                       assim que abriu seus olhos inocentes,
                                       foi para os pobres seu primeiro olhar!

No entanto, os reis da terra, pecadores,
seguindo a estrela que ao presepe os guia,
vem cobrir de perfumes e de flores
o chão daquela pobre estrebaria...

                                       Sobem hinos de amor ao céu profundo,
                                       homens, Jesus nasceu! Natal! Natal!
                                       Sobre esta palha esta quem salva o mundo,
                                       quem ama os fracos, quem perdoa o mal!

Natal!natal! em toda a natureza
há sorrisos e cantos nesse dia...
Salve, Deus da humildade e da pobreza.
Nascido numa pobre estrebaria!...
                                                   
                                                                        Olavo Bilac

domingo, 2 de dezembro de 2012

Na Estação Própria - (Texto e poesia de Samuel de Souza)

"Bem aventurado o varão que não anda segundo o conselho dos ímpios, nem se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores. Antes tem o seu prazer na lei do Senhor,e na sua lei medita de dia e de noite. Pois será como a árvore plantada junto a ribeiros de águas, a qual dá o seu fruto na estação própria, e cujas folhas não caem; e tudo quanto fizer prosperará. Não são assim os ímpios, mas são como a moinha que o vento espalha. Pelo que os ímpios não subsistirão no juízo, nem os pecadores na congregação dos justos. Porque o Senhor conhece o caminho dos justos, mas o caminho dos ímpios perecerá."  Salmo 1.


                                            
     O livro de Salmos, que era uma expressão de religiosidade do povo de Israel e de sua dependência de Deus, o Todo Poderoso, apresentado em lindos cânticos espirituais em que, não só serviam para o culto de adoraçãoa mas, também, indicador das bem-aventuranças divinas para quantos respeitassem a pessoa do Deus Criador e reconhecessem a Sua autoridade na efetivação de suas vidas, encaradas sob a  visão da justiça, razão porque, através dos Salmos, encontramos com muita clareza a mensagem messiânica.

     No Salmo primeiro, temos o caminho de vida para ser perlustrado pelos jovens, através do seu mais brilhante aconselhamento, dando aos filhos de Israel o ensino em que são estabelecidos os princípios básicos para que qualquer pessoa seja verdadeiramente bem-aventurada. A mensagem do Salmo primeiro não somente era importante para os jovens do seu tempo, mas para todos os jovens de qualquer tempo, incluindo, portanto, os jovens da atualidade porque a benignidade do Senhor também dura para sempre, conforme em tantos Salmos esta afirmação é cantada.

     Na presente meditação, vamos focalizar a expressão: "na estação própria", isto é, no momento oportuno para a tomada de todas as nossas decisões, porquanto, o Salmo assim se inicia:

                                                           ALEGRAI-VOS
                                                            NO SENHOR

                                          É bênção para os Crentes em Jesus
                                          Terem, na vida, múltiplas razões
                                          Para que estejam cheios de alegria,
                                          Por terem, de Deus,  puros corações.

                                          Na jornada que temos neste mundo,
                                          Nossa vida palpita de alegria
                                          Porque podemos refletir a luz
                                          Que refulgente temos cada dia.

                                          Com grande regozijo no Senhor,
                                          Sejamos vencedores neste mundo
                                          E Deus nos dê, do seu amor fecundo!

                                         Que o nosso coração não seja inflado
                                         Por apenas ilusões de gozo.
                                         Seja nosso louvor, a Deus, formoso! 


Samuel de Souza - Saudoso pastor da Igreja Batista do Ingá, Niterói - RJ e, filho de Manuel Avelino de Souza, autor de 29 Hinos do Cantor Cristão (Hinário das Igrejas Batistas).  
         

KAIRÓS - Mário Celso Rodrigues






Alegro, andante, moderato.

Um agudo – pouco mais suave.

Clave de sol, sustenido, colchéia.

Poesia,  incomparável harmonia.

Primeiro, segundo soprano,

nos faz sonhar o contralto..

Pássaro planando nas alturas,

águas cristalinas que deslizam no riacho,

sol que repousa no berço das montanhas,

lua que desponta no horizonte dos mares.

Como perfume das rosas,

 é o louvor que sobe aos ares.

No momento exato, tempo certo,

revivo e como pluma

subo aos céus

KAIRÓS

quando cantas,

como metamorfose, tempo certo,

 momento exato,

 transformas

 em celeste poesia, esquecidos dissabores.

Leva-nos também a cantar,

                                                      em doce e alegre harmonia,

ao nosso Deus louvores

HABACUQUE (Israel Belo de Azevedo)




                     

                     















 
 

 

Ainda que a vida hoje não floresça,

partida por perda que traz do abismo a beira,

roída na raiz pela dor da doença,

que prontidão atenta e absoluta requeira.

 

                  Ainda que entre os meus, a dissonância cresça,

                  minha alma se seque como estéril figueira.

                  Do que tenho apenas reste uma rala esteira,      

                  e meu próximo momento eu não conheça.

 

Eu orarei ao Pai para que me sustenha,

eu esperarei que seu sustento me venha,

até que Ele me sussurre suas respostas.

 

                  Porque sei que toda a minha angústia Ele sente,

                  porque sinto que comigo Ele está presente,

                  Eu agora me lanço sobre suas costas.

terça-feira, 27 de novembro de 2012

O DESPERTA NA ROÇA - Mário Celso Rodrigues

Com os zóio inda turvo esticano gostoso os osso; madrugada inda iscura. No poleiro o garnisé cantando, disputando com o carijó. As poedera se cumprimentando... Um cacarejá que só... Um poquim mais adiante, a Malhada sorta um mugido, no chiquero isfomiado reclama Chicó. Nos gáiu do abacatero a confusão dos pardá, e no pé de jatobá alegre canta o sabiá. Eta dispertar, qui festa! Num tem de que reclamá. Num pulo, sarto da cama. Mariete já num tava lá, muié isperta, foi o café aprontá. Por entre as fresta da janela, o vermeião do sol vi dispontá, dei um Glória a Deus, Aleluia! Que dia bom pra trabaiá! Nos passo ligero dum bom caipira, na cuzinha dipressa quis chegá. Marieta bunita num vistido de chita, leite e café, biscoito de nata, do mio verdi a pamonha e tinha também bolo de fubá, lá vinha os mininu acabano di acordá. Nos dois lado da mesa, os banco pra si sentá. “O Sinhô e meu pastô, nada mi fartará...”. O minino maió aprendeu a soletrá, bonito é Marieta cantando os hino que louva ao Sinhô e o pequenino repitino: “gólia, gólia, Salvadô” O missionário chama Zé Lino pra estudá, minha bela companhera tem a casa prá cuidá. Pequeno Tuninho vive pra traquiná. Coloco a inxada nas costa, o orvaio moiando a butina. A passo firme vô pra roça, tenho a famia pra sustentá! É duro o trabaio no campo, o mato que tenho de roçá. Aprontá a terra pra semiá, tem os animá pra cuidá... Mas Deus dá uma força danada. Fica leve o labutá, E no final do dia, a Deus quero louvá. O sol tá no arto, istômago roncano, deve de sê meio dia, pro rancho vô caminhano. No meio do caminho topei com Zé Lino, minino isperto, dicidido, qué sê pastô,veio falano. Ouvino suas historia no rancho cheguei sonhano. Tuninho também com o missionário iniciô a lê, prus minino da fazenda diz que doutô vai sê. O orvaio moiando a butina. A passo firme vô pra roça, Vô meus corim cantano, cantano o prazê qui sinto. É o coração do caipira, lavado pelo sangue de Cristo. E todo o dia renasce a felicidade, não minto! Os ano si passaro, Zé Lino é pastor, e na cidade grande, de Cristo anuncia o amor, e o missionário pro estrangero vortô. Aprendeu a lê Marieta e a outros ensina com dulçô. O traquina do Toninho, dotô Antônio se tornô. Com carinho trata us infermo, aliviando sua dô. E continua exartando: Glória, glória ao meu Senhor!

DUAS ROSAS - Castro Alves

São duas rosas unidas, São duas flores nascidas Talvez no mesmo arrebol. Vivendo no mesmo galho, Da mesma gota de orvalho, Do mesmo raio de sol. II Vivendo... bem como as penas Das duas asas pequenas De um passarinho no céu. Como um casal de rolinhas como a tribo de andorinhas Da tarde no frouxo véu. III Vivendo, bem como os prantos Que em parelhas descem tantos Das profundezas do olhar. Como o suspiro e o desgosto, Como as covinhas do rosto, Como as estrelas do mar. IV Vivendo... ai, quem pudera, Numa eterna primavera, Viver qual vive esta flor. Juntar as rosas da vida Na rama verde e florida, Na verde rama do amor

sábado, 3 de novembro de 2012

AO PEQUENO PASTOR (Mário Celso Rodrigues)

Porque tu és de estatura “franzina”, quando te empertigas e o semblante muda. As palavras que proferes - não são tuas... Os vigorosos gestos – que também não são teus. Me fazes pensar no pequeno Davi... Também pastor... Com ousadia enfrentando o gigante dos filisteus. Em meus cismares pergunto – Oh! franzino pregador das garras do leão e do potente urso, do vil tentador e das ciladas do mal, quantas foram as vezes que te livrou o Senhor? Como no passado, hoje te incomodaria... Capacete, fardamentos, escudo e espada; o peso não suportaria. Com garbo tomaste a Bíblia – o cajado. Os seixos – de Deus a palavra que flui e nos lança; servos e ungidos do Senhor, exterminando armadilhas, astutas ciladas. Continue intrépido... Valente e franzino pregador!

POESIA TEU NOME É MULHER (Mário Celso Rodrigues)

Poetizar a própria poesia, tarefa difícil para o mais excelente poeta. A criação, por si já é uma poesia escrita por Deus... Que era bom Ele já sabia! Quanta alegria aos nossos olhos as aves multicores e, aos nossos ouvidos, suas melodias! Mexe o nosso sentimento a sanguínea e quente rosa cortejada pelas borboletas. O sorriso de um bebê arrebata a inspiração do mais rude e também do poeta. Toda a criação por si, repito, foge ao domínio do pensador e também do que verseja... Todo o criador tem uma obra perfeita, tanto mais, tem Aquele que nos criou... ... Com seu poder infindo, Divina inspiração... Os olhos tristes da criatura primeira, motivo da certeza de uma solidão, comoveu o feitor de tão grande criação. Iniciando sua obra prima, a mais bela poesia que todo poeta almeja. Ser sublime, instintos nobres, harmoniosa beleza... Generosa em qualidades, divina orquestra e sinfonia em seu expressar... ... Poesia que ainda hoje Deus verseja. Obra prima em sua essência ... Poesia seu nome é mulher! Não importa se tens muito, pouca ou nenhuma cultura, és a poesia que embala a vida. És, mulher, resultado de orações respondidas... És rubras rosas que embelezam os jardins de nossas vidas! Que Deus as abençoe sempre, e a nós, sabedoria para que saibamos reconhecer que, não és somente uma poesia, mas também dádiva de Deus para nossos dias

terça-feira, 16 de outubro de 2012

CANÇÃO DO EXÍLIO (Antonio G. Dias)

Minha terra tem palmeiras, onde canta o sabiá. As aves que aqui gorjeiam, não gorjeiam como lá. Nosso céu tem mais estrelas, nossas várzeas tem mais flores, nossos bosques tem mais vidas, nossa vida mais amores. Em cismar sozinho à noite. Mais prazer encontro eu lá, minha terra tem palmeiras onde canta o sabiá. Minha terra tem primores, que tais não encontro eu cá, em cismar sozinho a noite, Mas prazer encontro eu lá. Minha terra tem palmeiras, onde canta o sabiá. Não permita Deus que eu morra, sem que eu volte para lá. Sem que desfrute os primores, que não encontro por cá. Sem que inda aviste as palmeiras, onde canta o sabiá.

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

ECLESIASTES 11 (Israel B. de Azevedo)

Lançar o meu pão sobre as águas ignotas, para ser tomado pelo bico das gaivotas? Lançar o meu pão sobre as águas revoltas onde serão apenas migalhas soltas? Lançar o meu pão sobre as águas imundas? De onde baixarão para as trevas profundas? Lançar o meu pão sobre as águas imensas, que conduzirão para distancias densas? Nada sei sobre o destino das águas, porque não sei como as ondas se formam, como não sei onde os ventos se reformam, como não sei o que as nuvens portam, porque não sei porque as trevas assim se comportam. Sei que vou recolher meu pão lançado, mesmo que pelas gaivotas bicado, mesmo que pelas pedras esmigalhado, mesmo que pelo óleo manchado, mesmo que da viagem cansado. Porque confio na palavra plena de Deus, que me manda meu pão sobre as águas lançar, eis que seus projetos são melhores que os meus, pelo que sua sabedoria quero tão somente alcançar.